Documentário No Céu da Pátria Nesse Instante não traz novidades, mas é relevante

O documentário No Céu da Pátria Nesse Instante, que estreia em 14 de agosto com distribuição pela O2 Play e Lira Filmes, não traz exatamente uma abordagem inédita para as telas. Focado nos meses que antecederam as eleições presidenciais de 2022 no Brasil, e que se estende até os ataques terroristas de 8 de janeiro de 2023, o filme reflete a divisão e o clima de hostilidade que dominaram o país após o impeachment de Dilma Rousseff. Aquele cenário que pode ser resumido como “todos contra o PT”.

A diretora Sandra Kogut faz uso de imagens que ajudam a relembrar o ambiente tenso em que o Brasil se viu mergulhado, com uma narrativa que, de alguma forma, busca justificar os acontecimentos que culminaram na tentativa de golpe de estado.

Não que o documentário precise de palavras: as imagens falam por si mesmas, mas há um direcionamento claro em sua edição, que reforça uma visão específica dos eventos.

Sem maquiagem

É importante notar que essas imagens tendem a reforçar um único lado da história. O radicalismo, como sabemos, nunca é bom, seja ele de qualquer espectro político. Mas, neste documentário, parece haver uma ênfase em mostrar o radicalismo que tomou conta do Brasil a partir de 2016, com um discurso cada vez mais polarizado.

Cenas que já vimos, seja no cinema ou no jornalismo diário, como manifestações de desinformação, preconceito e intolerância, são reapresentadas sem grandes surpresas.

A abertura de No Céu da Pátria Nesse Instante é um reflexo do clima de polarização. O filme começa com o áudio de uma mulher que se recusa a participar da produção, temendo que se trate de mais uma obra da “esquerda”. As entrevistas com aqueles que se posicionam contra a reeleição de Lula são recheadas de declarações contundentes, sem qualquer tipo de maquiagem ou manipulação.

Países diferentes

Mas, é claro, sempre há uma direção, uma condução das falas para reforçar uma visão do cenário político.

Mas uma questão que fica no ar (para quem quiser refletir) é: onde está a produção audiovisual que represente o outro lado? E, não, não estou me referindo às redes sociais, mas à produção de conteúdo sério, que fuja das “lacrações” e do humor barato dos opositores no Congresso.

Onde estão os filmes, as reportagens, as imagens que realmente questionam a atual situação política e apontam para um “país diferente”, como alguns entrevistados no documentário expressam, claramente abalados com o retorno da esquerda ao poder?

Urgência em relembrar

Embora No Céu da Pátria Nesse Instante não traga nenhuma novidade significativa, isso não diminui sua importância. Em um país com a memória tão curta como o Brasil, é sempre válido revisitar momentos que marcaram nossa recente história.

Sem recorrer a cortinas de fumaça, fake news ou discursos populistas que agradam parte da massa, mas que não constroem realmente algo positivo para o país. É um documentário necessário, não pela novidade, mas pela urgência de relembrar e refletir sobre o que vivemos.