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Água de lastro: o risco invisível que ameaça os oceanos e a saúde pública
O transporte marítimo representa uma base fundamental da economia mundial. Todos os anos, bilhões de toneladas de mercadorias atravessam os oceanos, impulsionando o comércio global. Porém, essa atividade essencial traz consigo um problema silencioso e altamente prejudicial: a água de lastro. Utilizada para garantir a estabilidade das embarcações, ela também facilita a disseminação de organismos invasores e agentes patogênicos entre portos e ecossistemas distintos.
Como a água de lastro afeta os ambientes aquáticos
Durante as viagens marítimas, os navios coletam água de lastro em um porto e a descartam em outro, muitas vezes a milhares de quilômetros de distância. Esse simples procedimento logístico resulta na liberação de espécies exóticas em regiões onde elas não existiam naturalmente. Essas espécies, por sua vez, podem se estabelecer de forma descontrolada, competir com os organismos nativos e alterar profundamente a biodiversidade local.
Um exemplo alarmante dessa dinâmica é o mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei), originário do sudeste asiático. Após ser introduzido acidentalmente na América do Sul, ele se espalhou com rapidez por diversos cursos d’água, causando entupimentos em sistemas de captação de água, danificando turbinas em usinas hidrelétricas e desestabilizando cadeias ecológicas inteiras.
Perigos para a saúde pública: o que a ciência já descobriu
Além do impacto ambiental, a água de lastro também representa sérias ameaças sanitárias. Estudos conduzidos pela Fiocruz e pela ANVISA comprovaram a presença de microrganismos perigosos como o Vibrio cholerae — causador da cólera — e a Escherichia coli em amostras recolhidas em portos brasileiros. Esses patógenos podem se espalhar para áreas costeiras e representar riscos diretos à saúde humana, especialmente em regiões com infraestrutura de saneamento deficiente.
Como a regulamentação internacional tenta conter o problema
Diante da gravidade do cenário, a Organização Marítima Internacional (OMI) estabeleceu a Convenção Internacional para o Controle e Gerenciamento da Água de Lastro, que entrou em vigor em 2017. Esse tratado global busca minimizar os impactos negativos desse fenômeno por meio de diretrizes claras e práticas obrigatórias para os navios comerciais.
Entre as principais medidas estão:
- Troca da água de lastro em alto-mar: esse procedimento reduz a probabilidade de sobrevivência de espécies costeiras, já que as condições oceânicas tendem a ser muito diferentes dos ambientes portuários.
- Tratamentos físicos e químicos: incluem filtragem, radiação ultravioleta e uso de biocidas, que eliminam microrganismos antes do descarregamento da água.
- Monitoramento e fiscalização: os países signatários da convenção devem estabelecer normas rígidas, além de sistemas eficazes de inspeção nos portos.
Desafios globais e a importância da cooperação
Embora essas ações representem um avanço, diversos obstáculos ainda dificultam a implementação completa das medidas. Em muitos países, especialmente nos que possuem infraestrutura portuária limitada, faltam recursos técnicos e humanos para fiscalizar adequadamente os navios. Além disso, a falta de padronização entre legislações nacionais torna mais difícil o controle eficaz em escala internacional.
Por isso, a conscientização sobre o impacto da água de lastro precisa se ampliar. A proteção dos ecossistemas marinhos exige colaboração entre governos, empresas de transporte marítimo e organizações ambientais. O combate a esse problema invisível, mas potencialmente devastador, depende da nossa capacidade de agir de forma coordenada e responsável.
FAQ sobre água de lastro
O que é água de lastro?
É a água armazenada nos tanques dos navios para garantir estabilidade durante a navegação.
Por que a água de lastro representa um risco ambiental?
Porque ela pode transportar espécies invasoras e patógenos de um porto para outro, alterando ecossistemas.
Como o mexilhão-dourado chegou à América do Sul?
Por meio da água de lastro de navios provenientes da Ásia, que liberaram os organismos em rios da região.
Quais doenças podem ser transmitidas pela água de lastro?
Doenças como a cólera, causada pelo Vibrio cholerae, e infecções por Escherichia coli.
O que a OMI faz para combater esse problema?
A OMI criou uma convenção internacional com diretrizes para o controle e tratamento da água de lastro.
Filipe Menks
Estudante de Oceanografia da Universidade Federal do Maranhão, escrevendo por aqui sobre humanidade, meio ambiente e afins.
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