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Influencers: celebridades do vazio ou reflexo da nossa era?
Vivemos a era do espetáculo digital. Uma era em que não importa tanto o que se diz, mas como se aparece. Nesse cenário, os influencers surgem como protagonistas de uma nova narrativa: vendem produtos, ideias, estilos de vida — e, em muitos casos, ilusões. Tornaram-se símbolos de aspiração, sucesso e pertencimento, mesmo que a substância por trás de suas imagens seja rasa ou, pior, destrutiva.
Mas quem são esses novos oráculos digitais? Celebridades do vazio ou reflexos precisos da nossa condição atual? Neste artigo, propomos uma análise espiritual, filosófica e cultural sobre o fenômeno dos influencers, seus impactos, responsabilidades e o papel que todos nós desempenhamos nesse espetáculo.
O império da aparência: influência sem consciência
A palavra influenciar carrega poder. Mas hoje, esse poder é frequentemente desprovido de propósito. Na lógica das redes sociais, o que mais vale é o engajamento — não a verdade, não a ética, não a responsabilidade.
Vivemos a consagração da imagem sobre o conteúdo. Pessoas ganham notoriedade por viralizar, mesmo que às custas do ridículo, da mentira ou da banalização da dor. Como afirmou Guy Debord em A Sociedade do Espetáculo, “o espetáculo não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediada por imagens”.
Nesse contexto, o influencer não é apenas um indivíduo: é um sintoma coletivo de uma era carente de sentido.
Bets e apostas: a nova febre que devora jovens
Entre as práticas mais nocivas promovidas por influencers está a propaganda de apostas online, conhecidas como bets. Com promessas de dinheiro fácil e uma vida luxuosa, esses conteúdos seduzem jovens e pessoas vulneráveis. O vício entra pela porta da esperança, e o fracasso financeiro se torna realidade para milhares.
Mais do que uma prática comercial, o bet tornou-se um ritual moderno de fé cega. O influencer atua como sacerdote, o celular é o altar, e a aposta, um dízimo inconsciente pago ao sistema. É uma espiritualidade distorcida, onde a ganância substitui a evolução.
A maioria desses influenciadores não menciona que a matemática do jogo está contra o apostador. Eles lucram com contratos milionários enquanto o público se endivida em silêncio. Trata-se de um fenômeno ética e espiritualmente insustentável.
Do feed ao palanque: influencers na política
A popularidade dos influencers não passou despercebida pela política. Muitos foram convidados — ou se autoconvidaram — a disputar eleições. E, para espanto de alguns e desespero de outros, foram eleitos.
Essas figuras ocupam cargos públicos com pouquíssima compreensão de políticas públicas, estrutura estatal ou senso de responsabilidade coletiva. Mas dominam a lacração, a viralização e a autopromoção.
O perigo é evidente: quando a política vira palco de vaidades digitais, o debate público se empobrece. Em vez de projetos e ideias, temos bordões. Em vez de escuta e diálogo, temos monólogos ensaiados. A política, que deveria ser a arte do bem comum, transforma-se em palco para performances efêmeras.
O influencer como arquétipo: guia ou ilusão?
Espiritualmente falando, o influencer moderno encarna um arquétipo híbrido: ora curador, ora ilusionista. Mas, na maioria das vezes, reflete o narcisismo de uma sociedade que prefere ser entretida a ser transformada.
Nas tradições ancestrais, os “influenciadores” eram os anciãos, xamãs, curadores, sábios. Pessoas que guiavam comunidades com sabedoria, silêncio e introspecção. Hoje, trocamos isso por pessoas que gritam, dançam, ostentam e vendem.
A pergunta essencial não é “quem eles são”, mas “quem nós somos ao segui-los”. Cada follow é uma escolha energética, cada clique é um voto de confiança.
Despertar coletivo: do algoritmo à consciência
Não há influencer sem audiência. E não há audiência sem vontade. A verdadeira transformação começa quando deixamos de consumir por impulso e passamos a escolher com discernimento.
É hora de exigir autenticidade, ética e responsabilidade de quem ocupa espaço na mente coletiva. E, acima de tudo, é hora de promover novos tipos de influência: mais silenciosa, mais sagrada, mais real.
A mudança começa com cada um de nós: ao silenciar o ruído e buscar a essência.
Referências e recomendações para aprofundamento
Livros
- A Sociedade do Espetáculo – Guy Debord: Crítica à sociedade moderna dominada pela imagem e representação.
- A Cultura do Narcisismo – Christopher Lasch: Analisa o colapso da interioridade e a ascensão de personalidades egocêntricas.
- O Mal-Estar na Pós-Modernidade – Zygmunt Bauman: Fala sobre a fluidez dos laços humanos na era da desconexão.
- 10 Arguments for Deleting Your Social Media Accounts Right Now – Jaron Lanier: Crítica à arquitetura manipuladora das redes.
Documentários e filmes
- The Social Dilemma (Netflix): Como as redes controlam emoções e comportamentos.
- Fake Famous (HBO): Experimento que transforma desconhecidos em influencers com bots e montagem.
- Fyre Festival (Netflix): Como uma fraude foi vendida com a ajuda de influencers.
- Don’t Look Up (Netflix): Crítica à distração coletiva e à espetacularização da mídia.
Artigos acadêmicos
- Influencers and the Construction of Authenticity in Social Media – Media, Culture & Society
- The Rise of Political Influencers and the Crisis of Democratic Deliberation – Oxford Internet Institute
FAQ sobre Influencers
Todos os influencers são negativos?
Não. Existem criadores conscientes, que usam sua influência para educação, espiritualidade, ciência e transformação social. O problema está na hegemonia dos que promovem apenas consumo, ostentação e entretenimento raso.
Influencers que promovem apostas podem ser punidos?
Sim, em diversos países há legislações que limitam ou proíbem esse tipo de publicidade, especialmente voltada para menores de idade. No Brasil, o tema ainda está em debate.
O que diferencia um influencer de um verdadeiro guia espiritual ou social?
O verdadeiro guia inspira transformação, não apenas admiração. Ele serve, não apenas aparece. Ele carrega coerência entre discurso e ação — algo raro nas redes.
Como posso consumir conteúdo de forma mais consciente?
Escolha o que você alimenta com sua atenção. Questione intenções, observe se há valores, coerência e profundidade. E se algo parecer tóxico, silencie, desfaça o follow, proteja sua mente.
Existe futuro para uma influência mais ética e profunda?
Sim — e já está nascendo. Pequenos canais, movimentos de educação espiritual e criadores com propósito estão emergindo. A responsabilidade agora é do público: apoiar o que eleva.
Redação Sideral
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