Network States: os Estados digitais sem território que desafiam a soberania

Network States são Estados digitais baseados em blockchain e contratos privados. Entenda como esse modelo se conecta ao projeto autoritário GovCorp.
Network States: os Estados digitais sem território que desafiam a soberania
Foto: Era Sideral / Direitos Reservados

E se um país não precisasse de território? E se, em vez de fronteiras físicas, ele fosse baseado em uma rede global de pessoas conectadas por valores, contratos digitais e tecnologia blockchain? Esse é o conceito de Network State — ou “Estado em rede” — proposto por tecnólogos do Vale do Silício como a próxima grande revolução na organização social.

Mas por trás do discurso de inovação, o modelo levanta sérias questões: quem governa, quem fiscaliza, quem participa? E, sobretudo: estamos diante de uma evolução democrática ou de uma nova forma de dominação corporativa?

O que é um Network State?

O termo foi cunhado por Balaji Srinivasan, ex-diretor da Coinbase e investidor de capital de risco, no livro The Network State. Segundo ele, um Network State é:

  • Uma comunidade online com identidade e regras próprias
  • Um grupo que acumula capital, influência e legitimidade digital
  • Um coletivo que busca reconhecimento como um “novo país”
  • Uma estrutura baseada em blockchain, contratos inteligentes e DAOs

O objetivo final? Conseguir reconhecimento diplomático e status soberano sem depender de território.

Da utopia digital ao autoritarismo algorítmico

Apesar da estética libertária, o Network State se aproxima perigosamente de um modelo fechado e tecnocrático. Afinal:

  • As “regras” são escritas por fundadores (ou CEOs)
  • As decisões são executadas por smart contracts (sem debate)
  • A justiça é privatizada em código
  • O pertencimento depende de criptomoeda, reputação e aceitação

O que parecia uma alternativa ao Estado pode se tornar um clube digital elitista e autoritário, onde só entra quem se encaixa no algoritmo.

Network States e o projeto GovCorp

O conceito de Network State é a expressão digital pura do GovCorp. Ambos compartilham as seguintes ideias:

  • Abolição da democracia representativa
  • Substituição da soberania estatal por contratos privados
  • Governo como empresa, cidadão como usuário
  • Adoção de métricas de engajamento como forma de legitimidade

🧠 Quer entender como os Network States fazem parte de um projeto maior que ameaça a democracia no mundo físico e digital? Leia o artigo principal: GovCorp: como a nova direita do Vale do Silício quer acabar com a democracia

O risco real: fragmentação e privatização da soberania

Os Network States:

  • Não precisam garantir direitos fundamentais
  • Não são obrigados a incluir os diferentes
  • Podem ser dissolvidos ou vendidos
  • Respondem a métricas de mercado, não a votos

Essa lógica favorece a fragmentação do espaço político global, com soberanias temporárias, baseadas em tecnologia de código fechado, sem justiça redistributiva nem inclusão social.

Exemplos e protótipos emergentes

  • Bitnation: projeto baseado em blockchain para criar uma “nação voluntária”
  • Zuzalu (criado por Vitalik Buterin): uma comunidade nômade com governança digital
  • Prospera: embora territorial, compartilha lógica de DAO com soberania empresarial
  • Liberland: micronação fundada em terra disputada entre Croácia e Sérvia, baseada em criptolibertarianismo

Nenhum deles alcançou soberania formal, mas todos refletem a busca por um novo modelo de poder sem povo e sem Estado.

Soberania sem povo é soberania?

Os Network States vendem a ideia de um mundo sem burocracia, sem política, sem fronteiras. Mas o que se propõe no lugar é uma tecnocracia digital, onde decisões são tomadas por fundadores, investidores e códigos inalteráveis.

Se aceitarmos esse modelo, corremos o risco de substituir a cidadania por tokens, e o pacto social por NFTs com cláusulas de exclusão.

FAQ sobre Network States

O que é um Network State?

Um Estado digital baseado em blockchain, contratos inteligentes e comunidades online.

Quem criou esse conceito?

Balaji Srinivasan, investidor e ex-diretor da Coinbase.

Qual a relação com o GovCorp?

Ambos eliminam o Estado tradicional e colocam o poder nas mãos de tecnocratas e empresas.

Já existem Network States?

Projetos como Bitnation, Prospera e Zuzalu são protótipos práticos.

Quais os riscos?

Privatização da soberania, ausência de direitos garantidos, exclusão digital e ausência de representatividade.

Redação Sideral

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