Carta para uma mãe que não conseguiu amamentar

Há tantos motivos possíveis para não se conseguir amamentar.

E até motivos para nem querer tentar.

Esse não é um espaço para julgar.

Nem espaço para desmerecer.

É apenas hora de reconhecer:

Reconhecer que amamentar é um ato de amor,

Mas que amamentar não é a única forma de amar.

Eu pensava que iria conseguir.

Não sabia que iam me proibir.

Talvez agora eu já não me veja nesse papel:

Lactante com bebê pendurado no peito por aí.

Sofri, mas compreendi:

Minha filha receberia outras coisas de mim.

Muito colo, amor e abraço.

Palavras de compreensão.

Música de ninar no mais belo tom.

Denguinho gostoso.

Contato pele a pele é tudo de bom!

Há muitas formas de amar.

Nem todas as mães podem amamentar.

É bonito incentivar,

Porque amamentar pode salvar.

Mas às vezes também pode vulnerabilizar.

O leite carrega vida,

Mas também carrega medicações.

Carrega vírus e organismos.

Carrega a lembrança da mama

Do câncer que assim se curou,

Ou das glândulas que uma escolha estética tirou.

Ser mãe é uma constante

De sacrifícios e aprendizados.

Fugimos da culpa, mas ela

Habita o coração das mães

Sem pedir pra morar,

Se instala

Como quem veio pra ficar.

O que importa agora é ressignificar.

Ao vermos um bebê com mamadeira,

Vamos ter sensibilidade em nossa maneira.

Pergunte-se o que está a faltar?

Às vezes falta informação.

Às vezes sobra solidão.

Pós-parto é momento delicado:

A infância e a maternidade lado a lado.

Vamos promover soluções e compreensões.

Restrição anda junto com dor.

Quando a amamentação possível não for,

Vamos incentivar outras formas de amor.