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PEC da Blindagem: deputados aprovam sua própria impunidade

O Brasil sempre carregou em sua história a marca da desigualdade, mas a recente aprovação da chamada PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados inaugura um novo patamar dessa distorção: a separação explícita entre cidadãos de primeira classe e cidadãos de segunda classe. Se confirmada no Senado, a proposta cria um regime em que parlamentares passam a viver acima da lei, blindados contra a responsabilização direta pela Justiça, ao mesmo tempo em que a população permanece exposta ao peso implacável das normas.
Cidadãos de primeira e segunda classe
Na prática, a PEC estabelece que deputados e senadores só poderão ser investigados ou processados se a própria Casa Legislativa autorizar. Isso gera exemplos absurdos:
- Um deputado atropela alguém em alta velocidade. Para que a investigação sequer comece, é preciso que outros deputados votem autorizando.
- Um parlamentar se envolve em tráfico de drogas. O Judiciário não pode agir diretamente; depende da decisão política de seus pares.
- Um deputado comete um crime hediondo — estupro, sequestro, assassinato — e só será responsabilizado se a Câmara ou o Senado permitirem.
- Em um cenário extremo, um deputado poderia até matar um eleitor por discordar de sua opinião. A vítima é enterrada, mas o agressor permanece protegido até que seus colegas decidam se será ou não investigado.
Enquanto isso, qualquer cidadão comum que atropela alguém, trafica drogas ou comete homicídio é imediatamente processado e preso, sem blindagem ou filtros corporativos. Essa assimetria institucionaliza a impunidade seletiva e cria uma elite política intocável.
A contradição do discurso moralista
O que causa maior indignação é que essa blindagem foi aprovada por lideranças que, durante anos, discursaram em palanques e carros de som contra a corrupção, sob o lema de Deus, pátria e família. Prometeram moralização, mas agora cravam no texto constitucional um dos maiores símbolos de autoproteção política da história brasileira.
O discurso anticorrupção revelou-se um instrumento de manipulação, usado para conquistar o poder, mas abandonado quando o sistema que deveria punir os corruptos ameaça a própria sobrevivência de quem bradava contra eles.
Lições da história
A história mostra que castas políticas blindadas sempre antecederam crises sociais profundas. No Império Romano, senadores gozavam de privilégios intocáveis, enquanto a plebe era esmagada por leis severas. O resultado foi o colapso moral e político de Roma. No Antigo Regime europeu, nobres e clérigos eram juridicamente superiores, intocáveis perante a lei, até que a Revolução Francesa derrubou o sistema.
O paralelo é inevitável: quando a lei não vale para todos, a sociedade caminha para rupturas. A PEC da Blindagem, se consolidada, lança o Brasil nesse perigoso abismo histórico.
Significado espiritual e simbólico
No plano espiritual e simbólico, a PEC é a consagração da traição ao pacto coletivo. A política deixa de ser serviço e responsabilidade para tornar-se um clube fechado de autopreservação. A mensagem enviada ao inconsciente coletivo é devastadora: a Justiça não é universal, mas seletiva; não é cega, mas cúmplice.
É a vitória da mentira sobre a verdade, da lealdade quebrada pela conveniência, da proteção dos fortes em detrimento da vulnerabilidade dos fracos. No campo simbólico, o Brasil passa a viver sob o domínio de uma casta de semideuses, que podem agir sem medo de punição, enquanto o povo segue submetido ao peso das leis terrenas.
Consequências sociais
Se aprovada no Senado, a PEC poderá trazer efeitos duradouros e corrosivos:
- Erosão da confiança pública – o povo perde a fé na política e nas instituições.
- Radicalização e ressentimento – cresce a percepção de injustiça, inflamando discursos extremistas.
- Choque institucional – Legislativo e Judiciário entram em rota de colisão, enfraquecendo a separação de poderes.
Mais que uma emenda constitucional, a PEC é um sintoma de degeneração política, que explicita a transformação do Legislativo em fortaleza contra o povo.
A PEC da Blindagem não é apenas uma medida jurídica: é o símbolo de uma classe que se coloca acima da sociedade. Em termos espirituais, é um espelho cármico: aqueles que gritaram contra a corrupção agora mostram sua verdadeira face. O Brasil, mais uma vez, é chamado a escolher se aceitará viver sob duas classes de cidadania — ou se resistirá para restaurar o princípio mais sagrado de qualquer democracia: a igualdade de todos perante a lei.
FAQ sobre a PEC da Blindagem
O que é a PEC da Blindagem?
É uma proposta de emenda constitucional que amplia as prerrogativas de deputados e senadores, exigindo autorização do Legislativo para que sejam investigados, processados ou presos.
Por que a PEC é chamada de “blindagem”?
Porque cria uma proteção adicional para parlamentares, impedindo a ação direta do Judiciário mesmo em casos de crimes graves.
Quais crimes ficariam protegidos?
Na prática, todos. Desde atropelamentos e corrupção até tráfico de drogas ou homicídios. Sem autorização da Câmara ou do Senado, o parlamentar não seria investigado.
Quem critica a PEC da Blindagem?
Juristas, organizações da sociedade civil e partidos de oposição. Argumentam que ela cria desigualdade perante a lei e fortalece a impunidade.
A PEC já está em vigor?
Ainda não. Foi aprovada na Câmara dos Deputados e agora depende de votação no Senado. Caso seja aprovada em dois turnos, será promulgada.
Redação Sideral
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