Professores brasileiros perdem 21% do tempo de aula para manter a disciplina

Professores no Brasil gastam 21% do tempo de aula lidando com indisciplina, revelando desafios estruturais e emocionais na educação.
Professores brasileiros perdem 21% do tempo de aula para manter a disciplina
Foto: Canva

Um dado preocupante expõe a complexa realidade das salas de aula brasileiras. Segundo a Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) 2024, realizada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e reportada pela Agência Brasil, os professores de todo o país perdem, em média, 21% do tempo de aula tentando manter a ordem e a atenção dos estudantes.

Em outras palavras, a cada cinco horas de aula, uma hora é consumida em esforços disciplinares, o que compromete diretamente o aprendizado.

Brasil acima da média mundial

Nos países-membros da OCDE, a média é de 15%. Isso significa que o Brasil enfrenta um desafio 40% maior que o de outros sistemas educacionais. O levantamento, que ouviu professores e diretores dos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), também revela uma tendência preocupante: entre 2018 e 2024, o percentual de tempo perdido com indisciplina cresceu dois pontos percentuais, tanto no Brasil quanto entre os demais países pesquisados.

Além disso, quase metade dos professores brasileiros — 44% — relatam ser frequentemente interrompidos pelos alunos, índice que mais que dobra a média da OCDE, de apenas 18%. O ambiente escolar, portanto, reflete não apenas uma questão de comportamento, mas de estrutura, formação docente e políticas públicas que ainda não garantem condições ideais de ensino e aprendizado.

O peso do estresse e os impactos na saúde

Os níveis de estresse entre professores brasileiros seguem próximos aos padrões internacionais: 21% dizem viver sob alta pressão, frente a 19% na média da OCDE. No entanto, o que mais preocupa são os efeitos desse estresse. No Brasil, 16% afirmam que o trabalho impacta negativamente a saúde mental — índice 60% superior à média global, de 10%. Já 12% relatam danos significativos à saúde física, enquanto a média da OCDE é de 8%.

Esses números reforçam um retrato alarmante: ensinar no Brasil exige não apenas preparo técnico, mas também resistência emocional e física. O desgaste crescente indica que a docência, mais do que nunca, precisa de políticas de suporte psicológico, reconhecimento profissional e condições adequadas de trabalho.

Valorização ainda distante do ideal

Embora a satisfação geral com a profissão permaneça alta — 87% dos docentes afirmam estar satisfeitos com o trabalho —, a percepção de valorização social continua baixa. Apenas 14% acreditam que os professores são reconhecidos pela sociedade, um aumento tímido de 3 pontos percentuais em relação a 2018. A média entre os países da OCDE é 22%.

No que diz respeito às políticas públicas, o cenário é semelhante. Só 14% dos professores acreditam que o Estado valoriza a profissão, mesmo após um aumento de 8 pontos em comparação com o último levantamento. Essa percepção impacta diretamente a permanência e a motivação de educadores no sistema de ensino.

Entre vocação e desafio

Apesar de todos os obstáculos, o amor à profissão ainda sustenta o magistério brasileiro. Para 58% dos entrevistados, ser professor foi a primeira escolha de carreira — um número idêntico ao registrado em 2018 e semelhante à média da OCDE. A dedicação, porém, não elimina a necessidade de reformas estruturais e investimentos consistentes que devolvam ao educador o respeito e as condições dignas que sua função exige.

A Talis 2024, conduzida pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em parceria com as secretarias de Educação das 27 Unidades Federativas, reforça uma verdade incontestável: não há transformação educacional sem professores valorizados, saudáveis e respeitados.

FAQ sobre o tempo de aula e os desafios dos professores brasileiros

Por que os professores brasileiros perdem tanto tempo com indisciplina?O problema envolve múltiplos fatores, como turmas grandes, falta de apoio pedagógico, infraestrutura precária e ausência de políticas efetivas de convivência escolar. Esses elementos reduzem o tempo dedicado ao ensino.

Como o Brasil se compara a outros países da OCDE nesse aspecto?O Brasil está 40% acima da média da OCDE em tempo perdido com indisciplina. Enquanto os países membros perdem 15% do tempo de aula, os professores brasileiros gastam 21% apenas para manter a ordem.

De que forma o estresse afeta os professores brasileiros?O estresse constante impacta tanto a saúde mental quanto a física dos docentes, levando ao esgotamento, afastamentos e até à desistência da profissão. Esse desgaste é agravado pela falta de reconhecimento e de suporte institucional.

Os professores se sentem valorizados no Brasil?Não. Apenas 14% acreditam que a sociedade valoriza os professores, e o mesmo percentual acredita no reconhecimento governamental. Essa falta de valorização prejudica a motivação e o prestígio da carreira docente.

O que pode ser feito para melhorar a situação?É essencial investir em formação contínua, políticas de valorização salarial, apoio psicológico e infraestrutura escolar. Essas medidas fortalecem o ambiente educacional e devolvem dignidade à docência.

Rogério Victorino

Jornalista especializado em entretenimento. Adora filmes, séries, decora diálogos, faz imitações e curte trilhas sonoras. Se arriscou pelo turismo, estilo de vida e gastronomia.

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