Negros veem mais credibilidade nas empresas do que no governo, indica novo estudo

Estudo revela que 85,3% dos negros no Brasil confiam mais em empresas do que em governantes, refletindo desilusão com o Estado.
Negros veem mais credibilidade nas empresas do que no governo, indica novo estudo
Foto: Canva

Um levantamento divulgado durante o Fórum Brasil Diverso 2025, realizado no Memorial da América Latina, em São Paulo, revelou que 85,3% da população negra confiam mais em empresas do que no poder público, cuja confiança alcançou apenas 68,7%. O estudo, intitulado O Consumo Invisível da Maioria: Percepções, Gatilhos e Barreiras de Consumo da População Negra no Brasil, foi conduzido pelos institutos Akatu, DataRaça e Market Analysis. A pesquisa, divulgada pela Agência Brasil, entrevistou mil pessoas negras de todas as regiões do país e partiu de um dado expressivo: o grupo movimenta cerca de R$ 1,9 trilhão por ano na economia nacional.

Polarização política e descrença nas instituições

O presidente do DataRaça e fundador do Fórum Brasil Diverso, Maurício Pestana, acredita que a intensa polarização política explica a desconfiança em relação ao poder público. Segundo ele, o empresariado transmite maior segurança porque segue regras claras contra discriminação, enquanto o Estado falha em garantir a aplicação das leis. Pestana defende que o governo brasileiro deve cumprir sua própria Constituição de forma consistente para restaurar a confiança social.

Empresas e religiões ganham mais credibilidade

As organizações não governamentais (31%) e as instituições religiosas (30,7%) aparecem como as entidades com maior credibilidade, seguidas pelas grandes empresas nacionais (17,1%) e pelas multinacionais no país (16,1%). O levantamento mostra, porém, que as empresas também enfrentam certo nível de desconfiança, ainda que menor do que o atribuído ao Estado. Entre os governos, apenas 12,9% dos entrevistados afirmaram ter muita confiança, enquanto 24% declararam não confiar de forma alguma.

A faixa etária mais cética é a de 35 a 44 anos, com 36,7% demonstrando desconfiança. Já mulheres, jovens e idosos se destacam entre os que mais confiam nas mensagens governamentais, com índices de 73,2%, 75,7% e 76,9%, respectivamente.

Racismo coletivo e cotidiano

O estudo também investigou a percepção do racismo estrutural. Para os entrevistados, a violência e a criminalidade representam os maiores problemas sociais (88,3%), seguidas pela corrupção (84,6%) e pela violência policial contra a população negra (72,9%). Questões como desigualdade social, inflação, desemprego e discriminação racial em espaços de consumo também aparecem entre as principais preocupações.

Quando questionados sobre impactos pessoais, 78,9% citaram a violência, 78,6% mencionaram a corrupção e 70,1% apontaram a violência policial como as experiências mais marcantes. A percepção de racismo se estende ao cotidiano: um em cada três consumidores negros (34,8%) relatou ter sofrido discriminação em compras ou contratações de serviços no último ano, muitas vezes de forma disfarçada, através de olhares e atitudes sutis.

Setores mais e menos inclusivos

Entre os setores que mais conquistam consumidores negros estão os de higiene, beleza, moda e comércio eletrônico, que vêm adotando práticas mais inclusivas. Já o varejo tradicional, os supermercados e os shoppings ainda enfrentam desafios para se tornarem ambientes mais acolhedores. As lojas de roupas, calçados e perfumaria lideram os relatos de discriminação (24,5%), seguidas pelos shoppings (17%) e supermercados (16,8%). Órgãos públicos aparecem com 5,5% das denúncias, enquanto o setor de eletrônicos soma 3,9%.

Os resultados reforçam a necessidade de políticas públicas e corporativas que enfrentem o racismo de forma sistêmica. Ao mesmo tempo, revelam um dado simbólico: a população negra acredita mais nas empresas do que no próprio Estado — uma inversão que reflete o esgotamento da confiança nas instituições públicas.

FAQ sobre o estudo O Consumo Invisível da Maioria

Por que a população negra confia mais em empresas do que no poder público?
As empresas mantêm códigos de conduta e regras claras contra a discriminação, o que transmite mais segurança. Já o Estado mostra fragilidade na aplicação das leis.

Quem realizou o estudo e qual foi o objetivo?
Os institutos Akatu, DataRaça e Market Analysis conduziram a pesquisa para compreender as percepções e barreiras de consumo da população negra no Brasil.

Quais são os principais problemas apontados pela população negra?
Os entrevistados destacaram violência, corrupção, desigualdade social, racismo e desemprego como os maiores desafios enfrentados diariamente.

Em quais setores a população negra sente mais inclusão?
Os setores de beleza, moda e comércio eletrônico aparecem como os mais acolhedores, por adotarem políticas de diversidade e representatividade.

Como o racismo se manifesta no consumo?
Ocorre de forma sutil, por meio de olhares de desconfiança, atendimentos diferenciados e abordagens que tratam consumidores negros de modo desigual.

Rogério Victorino

Jornalista especializado em entretenimento. Adora filmes, séries, decora diálogos, faz imitações e curte trilhas sonoras. Se arriscou pelo turismo, estilo de vida e gastronomia.

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