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Brasileiros acreditam que economia verde trará novos empregos
A crença maciça da população brasileira na capacidade da economia verde de gerar novos empregos expõe uma contradição inerente ao processo de evolução da sociedade: a esperança no futuro sustentável ainda está majoritariamente ligada à busca por mais conforto financeiro e status, e não a um imperativo puro de equilíbrio planetário. Este é o ponto central que a pesquisa da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) e da Nexus revela à luz da crítica contemporânea, de acordo com a Agência Brasil.
Para o observador cético, a unanimidade dos dados sugere um movimento de consciência, mas que não está desvinculado dos interesses mais mundanos. Cerca de 75% dos entrevistados – ou três em cada quatro pessoas – confiam que a transição para uma economia sustentável gerará novos empregos. Desse total, a maioria (54%) projeta o surgimento de “muitos empregos” novos, enquanto 21% esperam “poucos novos empregos”. Apenas 16% creem que a mudança pode piorar a oferta de trabalho.
O fator renda expõe a disparidade de esperança
O que a pesquisa detalha é a relação direta entre o otimismo e o poder aquisitivo. A crença na ampliação da oferta de empregos aumenta conforme a renda e a escolaridade do entrevistado se elevam, o que sugere que a percepção da “economia verde” é mais forte como um novo filão de mercado do que como uma necessidade de sobrevivência. Enquanto 78% dos que ganham acima de cinco salários mínimos apostam no aumento da oferta, essa porcentagem cai para 67% entre os que recebem até um salário mínimo.
Da mesma forma, 79% dos entrevistados com ensino superior completo preveem a criação de empregos, percentual que diminui para 68% entre aqueles com ensino fundamental completo. O presidente da ABDI, Ricardo Cappelli, explica essa tendência ao afirmar que uma economia sustentável demandará profissionais mais qualificados e, consequentemente, com salários maiores. Assim, é natural que quem tem mais estudo e renda percebe melhor as oportunidades que essa mudança pode trazer.
Legado e desespero
O desespero por sucesso e realização pessoal encontra um novo campo de manifestação no debate da sustentabilidade. O desejo é nobre: um planeta saudável. Mas a motivação, como nos vícios de consumo ou na corrida por multiprocessadores de alimentos, é o benefício individual imediato.
Enquanto a população mais abastada enxerga a transição como a construção de um novo legado financeiro, a parcela mais vulnerável demonstra uma resistência compreensível, talvez porque as promessas de novos empregos raramente se concretizem em sua realidade. Os dados por gênero e idade reforçam essa disparidade: homens (59%) e jovens (62% entre 16 e 24 anos) confiam mais no surgimento de postos de trabalho do que mulheres (49%) e maiores de 60 anos (46%).
A evolução real começa no interno
Os números regionais, que mostram taxas de crença na economia verde variando entre 78% (Sudeste e Sul) e 67% (Nordeste), reafirmam que a fé em grandes soluções externas é inversamente proporcional à realidade socioeconômica vivida. Uma possível evolução não está na criação de um novo mercado para ser consumido, mas na aceitação da contradição que rege o ser humano.
O indivíduo precisa, primeiramente, cuidar de sua própria casa, recalibrar seus valores e só então participar da edificação de um mundo mais equilibrado. A economia verde é um caminho válido, desde que a busca não seja apenas por um salário maior, mas por um planeta mais íntegro, coeso e apto para viver a vida, com ou sem crises.
Faq sobre economia verde e empregos
A transição para a economia verde realmente criará mais empregos?
Sim. A grande maioria dos brasileiros, 75%, acredita que a transição para uma economia sustentável gerará novos postos de trabalho. A pesquisa da ABDI e Nexus indica que 54% desses entrevistados esperam o surgimento de “muitos empregos” novos no país.
A confiança na economia verde é a mesma em todas as classes sociais?
Não. O estudo mostra que a crença na ampliação da oferta de empregos aumenta significativamente conforme a renda e a escolaridade do entrevistado crescem. Pessoas com renda superior a cinco salários mínimos e com ensino superior completo demonstram maior otimismo.
Por que a renda e a escolaridade influenciam a crença em novos empregos verdes?
Analistas, como o presidente da ABDI, Ricardo Cappelli, explicam que a economia sustentável demandará profissionais com maior qualificação, implicando salários mais altos. Assim, as classes mais altas e escolarizadas percebem melhor essas oportunidades de mercado.
As regiões brasileiras apresentam diferenças significativas na expectativa de emprego?
Sim. A crença na economia verde produzindo empregos é maior nas regiões Sul e Sudeste, ambas com 78% de apoio. No Nordeste, o número cai para 67%, o que sugere uma relação direta com as realidades econômicas regionais.
Qual é o risco dessa alta expectativa, segundo a análise crítica?
O risco apontado pela análise crítica é a contradição. A alta expectativa pode estar atrelada ao desejo de ganho financeiro individual, e não ao imperativo de equilíbrio planetário. A sustentabilidade se torna, assim, um novo mercado a ser explorado em vez de uma mudança de consciência profunda.
Rogério Victorino
Jornalista especializado em entretenimento. Adora filmes, séries, decora diálogos, faz imitações e curte trilhas sonoras. Se arriscou pelo turismo, estilo de vida e gastronomia.
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