MapBiomas revela colapso do Pantanal após quatro décadas de perda ambiental

Relatório do MapBiomas mostra colapso do Pantanal após 40 anos de degradação. Perda de 75% das áreas alagadas expõe crise ecológica.
MapBiomas revela colapso do Pantanal após quatro décadas de perda ambiental
Foto: Canva

O Pantanal, maior planície alagável contínua do planeta, passa por uma reconfiguração sem precedentes. De 2015 a 2024, o bioma perdeu 75% das áreas permanentemente alagadas — o equivalente a 1,2 milhão de hectares. O diagnóstico faz parte do novo relatório do MapBiomas, divulgado nesta semana no Dia do Pantanal (12/11) pela Agência Brasil. O documento expõe os impactos de quatro décadas de degradação, que incluem o avanço da agropecuária, da mineração e o enfraquecimento dos ciclos naturais de inundação.

Perdas históricas e avanço humano

Com base em mapas da Coleção 10 do MapBiomas, a análise mostra que a proporção de áreas naturais caiu de 79% para 61% na Bacia do Alto Paraguai (BAP) sul-mato-grossense, enquanto o Mato Grosso registrou queda de 80% para 58% em 40 anos. O crescimento da agricultura — principalmente da soja, responsável por 80% da área cultivada — impulsionou a perda de mais de 5,9 vezes da vegetação nativa em planaltos antes dominados por pastagens. Na planície, o avanço da pecuária eliminou 1,1 milhão de hectares de vegetação original.

O levantamento, que abrange 36 milhões de hectares entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, indica que a conversão do solo para uso antrópico já representa 15,2% do bioma. Pastagens ocupam 2,2 milhões de hectares; a agricultura, pouco mais de 9 mil; e a urbanização, 6 mil. A mineração industrial, a silvicultura e a aquicultura completam o mapa da interferência humana. Os dados foram destacados pela Agência Brasil.

Vozes da resistência

Entre os rostos que vivem essa transformação está Leonida de Souza, conhecida como Eliane, de 58 anos. Primeira mulher brigadista do Pantanal e coordenadora da Rede Pantaneira, ela observa o colapso do bioma com a experiência de quem viu a abundância desaparecer. “A seca é muito grande, as plantas não conseguem sobreviver. A gente plantava melancia, feijão, arroz. Hoje não tem mais nada disso. Tudo se tornou precário”, lamenta.

Descendente de guatós e quilombolas, Eliane denuncia a perda da liberdade pantaneira e a presença de empresas interessadas em explorar o mercado de carbono. “Tentaram empurrar um contrato sem transparência. Só percebi a intenção porque um amigo traduziu a conversa. Eles queriam assinar um cheque em branco”, relata.

Fogo controlado e novas estratégias

Geraldo Damasceno Junior, pesquisador da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e coordenador do Núcleo de Estudos do Fogo em Áreas Úmidas (Nefau), explica que o chamado fogo prescrito tem sido usado para evitar grandes incêndios. “A ideia é reduzir a biomassa acumulada. Quando o ciclo de seca vem forte, basta uma faísca no quintal para virar um incêndio descontrolado”, alerta.

Ele também aponta as hidrelétricas como fator crítico para a crise hídrica. “Quando se reduz o fluxo natural da água, o sistema entra em colapso. Se o Pantanal deixa de alagar, ele deixa de ser Pantanal. É um ponto de não retorno”, adverte o professor.

Monitoramento e esperança

Áurea Garcia, diretora da organização Mulheres em Ação no Pantanal (Mupan), aposta em ferramentas de monitoramento e restauração. Ela coordena o Sistema de Inteligência do Fogo em Áreas Úmidas (Sifau), criado pela Wetlands International Brasil e pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O sistema emite alertas em tempo real sobre focos de incêndio, mudanças no uso do solo e previsões meteorológicas para os próximos dias.

“Precisamos que os governos e as organizações internacionais olhem para o Pantanal como um bioma essencial à qualidade de vida e à estabilidade climática”, afirma Áurea, que também participa da COP30, em Belém (PA).

FAQ sobre o relatório do MapBiomas e o futuro do Pantanal

O que o novo relatório do MapBiomas revela sobre o Pantanal?
Mostra que o bioma perdeu 75% das áreas permanentemente alagadas em menos de uma década e acumula 40 anos de retrocesso ambiental.

Qual é a principal causa da degradação do Pantanal?
O avanço da agricultura, da pecuária e das hidrelétricas alterou o regime hídrico e reduziu drasticamente a vegetação nativa.

Quem são os protagonistas locais na defesa do bioma?
Lideranças como Eliane de Souza, da Rede Pantaneira, que articulam comunidades tradicionais em torno da resistência e da restauração ambiental.

Como funciona o fogo prescrito?
É uma técnica controlada que reduz o material combustível para evitar incêndios de grandes proporções durante períodos de seca extrema.

Que iniciativas tecnológicas ajudam a monitorar o Pantanal?
O Sifau, sistema desenvolvido pela Wetlands International Brasil e universidades, emite alertas e previsões sobre incêndios e uso do solo.

Rogério Victorino

Jornalista especializado em entretenimento. Adora filmes, séries, decora diálogos, faz imitações e curte trilhas sonoras. Se arriscou pelo turismo, estilo de vida e gastronomia.

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