O custo da negação climática e a falha na nossa bússola evolutiva

Eu olho para a COP 30 e vejo: a negação climática não é política, mas falha evolutiva. O conforto de negar a verdade contra o futuro real.
O custo da negação climática e a falha na nossa bússola evolutiva
Foto: Canva

Eu observo o debate acalorado sobre a COP 30 no Brasil e chego a uma conclusão inevitável: a negação climática, em países que insistem em adiar políticas ambientais sérias, não é primariamente um erro político ou econômico. Ela é, fundamentalmente, uma falha profunda na nossa bússola evolutiva.

Sinto que existe uma recusa em aceitar uma verdade sistêmica – a de que o aquecimento global é real e custoso – porque o preço de mudar agora é percebido como maior do que o preço de apenas fingir que o problema é uma fake news conveniente. É o conforto imediato do acúmulo material se sobrepondo à responsabilidade cósmica.

Confesso que essa postura me faz lembrar dos vendedores de sucesso que prometem riqueza sem esforço. É a mesma arte de vender uma ilusão. Eu vejo dados mostrando que países com alta taxa de desmatamento, por exemplo, muitas vezes defendem a soberania econômica acima da sustentabilidade, mas pagam o preço real em instabilidade climática e na desvalorização de seus ativos naturais.

Por outro lado, eu analiso economias desenvolvidas que investem pesadamente em energia limpa e vejo um PIB verde que, embora ainda carregue suas contradições, aponta para uma maturidade política inegável. A diferença é que um grupo prefere ignorar os fatos – como o aumento de 1,1°C na temperatura média global – enquanto o outro, pelo menos, aceita a premissa científica.

O abismo entre dados e consciência

O que me choca é o abismo entre o que sabemos e o que fazemos. Se observarmos os países que ainda flertam com o negacionismo, noto que a política é dominada por um imediatismo que penaliza o legado. Eu vejo que o discurso é puramente material: defender o lucro rápido em detrimento da sustentabilidade de longo prazo.

Em contraste, nações com políticas ambientais fortes demonstram, mesmo que imperfeitamente, um avanço na consciência coletiva. Eu penso que eles perceberam que a crise não é externa; ela é uma projeção da nossa própria desorganização interna, da nossa incapacidade de equilibrar o desejo de ter com a necessidade de ser.

O custo político da contradição

Eu não consigo deixar de lado o custo político dessa contradição. Nossos líderes, ao negarem a crise, nos oferecem uma rota de fuga fácil, mas eticamente falha. A negação é a corrupção do gene evolutivo, que nos permite trafegar pelo acostamento da história, ignorando o congestionamento que estamos criando para as futuras gerações.

Defendo que a verdadeira força política não reside em ignorar relatórios científicos, mas em ter a coragem de dizer ao eleitorado que a mudança exige sacrifício e recalibragem de valores. Sem essa coragem, a economia, mesmo que pareça robusta no curto prazo, está construída sobre uma base falsa, pronta para ruir sob o peso da próxima catástrofe climática.

A escolha da evolução em primeira pessoa

A escolha entre o desenvolvimento destrutivo e o equilíbrio sustentável é, em última análise, uma escolha pessoal. Eu não espero que a solução venha de grandes acordos internacionais – embora sejam necessários. Eu acredito que a verdadeira evolução começa quando o indivíduo aceita a própria contradição: aceitar a necessidade de consumir menos e priorizar a integridade.

A COP 30, o PIB, o desmatamento, todos são apenas espelhos do nosso estado interno. Eu concluo que a única saída é antecipar a sabedoria que só chega no leito de morte, avaliando agora o legado que queremos deixar.

FAQ sobre negação climática

O que a negação climática revela sobre o estado de uma nação?
A análise revela que a negação climática em nível político e econômico é mais do que um erro de cálculo financeiro. Ela é vista como uma falha na bússola evolutiva da sociedade, dessa forma, expondo a recusa em aceitar verdades sistêmicas e priorizando o conforto material de curto prazo sobre a responsabilidade de longo prazo.

Existe uma diferença econômica tangível entre países negacionistas e países verdes?
Não. O PIB de curto prazo de países negacionistas pode parecer estável, mas a análise sugere que eles pagam o preço real em instabilidade climática e na desvalorização de seus ativos ambientais. Em contraste, economias que investem em políticas verdes estão construindo, assim, um “PIB verde” que aponta para maior maturidade e sustentabilidade futura.

Qual é o impacto da negação climática no legado político?
O impacto é a corrosão da credibilidade e do legado. Pois a negação é vista como uma forma de corrupção do gene evolutivo, onde líderes oferecem rotas de fuga fáceis ao invés de pedirem o sacrifício necessário para a recalibragem de valores. Isso, por fim, penaliza as futuras gerações.

Por que o tema da negação é abordado como uma contradição?
É abordado como contradição porque os líderes e as populações geralmente possuem acesso aos dados (como o aumento da temperatura global) mas escolhem ignorá-los. Essa escolha, portanto, reflete uma incapacidade de equilibrar o desejo de acumular bens (ter) com a necessidade de ser e de preservar.

Onde começa a solução para o problema da negação climática?
A solução não é esperada apenas de grandes acordos globais. A verdadeira evolução e a mudança real começam a nível individual, com a aceitação da contradição interna e a recalibragem de valores. É preciso, assim, antecipar a sabedoria do fim da vida, avaliando o legado agora.

Rogério Victorino

Jornalista especializado em entretenimento. Adora filmes, séries, decora diálogos, faz imitações e curte trilhas sonoras. Se arriscou pelo turismo, estilo de vida e gastronomia.

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