IBGE redesenha biomas: Mata Atlântica encolhe e Cerrado se expande após revisão técnica

A revisão do IBGE nos limites de biomas em Minas e São Paulo revela ganho no Cerrado e perda na Mata Atlântica por ajustes técnicos.
IBGE redesenha biomas: Mata Atlântica encolhe e Cerrado se expande após revisão técnica
Foto: Canva

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revisou os limites entre os biomas Cerrado e Mata Atlântica em Minas Gerais e São Paulo e concluiu que o Cerrado ganhou 1,8% de área, enquanto a Mata Atlântica perdeu 1%. A reportagem é da Agência Brasil. Essa mudança, por mais “técnica” que soe, revela muito sobre como definimos a natureza: não apenas como ciência, mas como território simbólico, espiritual e político.

Ajustes técnicos ou redefinição simbólica?

O IBGE explica que a revisão não nasce de desmatamento nem reflorestamento, mas de uma avaliação técnica rigorosa. Os especialistas integraram dados climáticos, geológicos, geomorfológicos, pedológicos e de vegetação para recalibrar os contornos dos biomas. Essas mudanças ocorreram principalmente nas zonas de transição entre florestas estacionais e savanas, regiões que já foram disputadas como margens simbólicas e ecológicas.

Embora o IBGE tenha insistido que não há “ganho ambiental” ou “perda ambiental” em termos de biodiversidade nesta revisão, a implicação simbólica é profunda: parte da Mata Atlântica, bioma que representa matizes de memória, espiritualidade e resistência das comunidades tradicionais, deixa de pertencer ao mapeamento original, enquanto o Cerrado — que muitos percebem como terra ancestral de savanas, chapadões, sertões — se expande numa redefinição cartográfica.

Onde e como mudaram os limites

A área alterada representa quase 19.900 quilômetros quadrados, distribuídos entre Minas Gerais (816 km²) e São Paulo (19.053 km²). No mapa revisado pelo IBGE, a Mata Atlântica avança na região de Belo Horizonte e regiões ao norte da capital mineira, enquanto o Cerrado ganha terreno no centro-norte paulista, especialmente em áreas entre Franca, Ribeirão Preto, Piracicaba e Votuporanga.

Essas mudanças não se limitaram a desenhos cartográficos: envolveram expedições de campo, avaliações de especialistas multidisciplinares e participação da sociedade civil. O IBGE já realizou cinco expedições para validar as fronteiras revisadas, reforçando que esse processo não é puramente abstrato, mas enraizado no solo físico e nas vidas que dependem dele.

Biomas, memória e espiritualidade

Para a linha do Era Sideral, essa revisão convida a uma reflexão mais profunda: os biomas não são apenas categoria científica, mas territórios espirituais e simbólicos. A Mata Atlântica, com suas florestas costeiras densas, moldou a imaginação de comunidades quilombolas, indígenas, ribeirinhas. O Cerrado, por sua vez, carrega em suas savanas a ancestralidade de povos que veneram a caatinga, a vegetação baixa, o sol escaldante.

Quando o IBGE redesenha essas fronteiras, ele mexe não apenas com mapas, mas com modos de existir: redefine onde certas vidas florescem, quais histórias a natureza sustenta, quais sacrários ecológicos se consolidam. E, ao fazer isso, revela uma contradição: a ciência pode dizer que não houve desmatamento, mas a espiritualidade e o simbolismo das plantas e dos biomas não obedecem apenas a critérios técnicos.

Crítica contemporânea: conservação x identidade

A revisão do IBGE expõe uma tensão ética que ultrapassa o mapa: até que ponto somos meros cartógrafos da realidade natural? Além disso, a redefinição pode afetar políticas de proteção ambiental e territorial. Se parte da Mata Atlântica deixa de ser reconhecida dentro de seus limites anteriores, como isso impacta unidades de conservação, leis estaduais ou comunitárias que consideram esse bioma?

Por outro lado, a ampliação do Cerrado, mesmo que técnica, pode reforçar a visibilidade desse bioma pouco compreendido por muitos brasileiros. Porém, é preciso questionar: a expansão cartográfica traz proteção real ou apenas um novo rótulo para áreas vulneráveis? A resposta exige ação coletiva, consciência ecológica e espiritualidade comprometida com a Terra.

FAQ sobre a revisão do IBGE nos biomas

Por que o IBGE revisou os limites da Mata Atlântica e do Cerrado?
O IBGE revisou os limites baseando-se em novos critérios técnicos (clima, geologia, vegetação) para tornar o mapeamento mais preciso, sem relacionar isso diretamente a desmatamento ou reflorestamento.

Isso significa que houve desmatamento ou aumento real de vegetação?
Não. As mudanças resultam de uma redefinição cartográfica técnica — os biomas foram redesenhados, mas não necessariamente sofreram desmatamento ou regeneração recente.

Quais regiões foram mais afetadas pela revisão?
Em Minas Gerais, houve ajustes perto de Belo Horizonte e no norte. Em São Paulo, o Cerrado ganhou área especialmente no centro-norte paulista, em municípios como Franca, Piracicaba e Ribeirão Preto.

Como essa revisão pode afetar a conservação ambiental?
Se os novos limites redefinem áreas protegidas ou leis estaduais, pode haver impacto nas políticas de preservação. Por isso, é urgente debater a revisão sob uma perspectiva ética, territorial e comunitária.

Qual é a relação entre essa revisão científica e a espiritualidade ambiental?
A revisão não afeta apenas mapas, mas também a forma como comunidades enxergam a natureza. Repor limites biomas pode alterar símbolos, histórias e modos de pertença, e exige uma ética que una ciência e respeito espiritual pela Terra.

Rogério Victorino

Jornalista especializado em entretenimento. Adora filmes, séries, decora diálogos, faz imitações e curte trilhas sonoras. Se arriscou pelo turismo, estilo de vida e gastronomia.

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