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Acesso à internet na primeira infância dispara, mas expõe desigualdades e riscos ao desenvolvimento
O acesso à internet na primeira infância mais do que dobrou no Brasil em menos de uma década. No entanto, esse avanço tecnológico escancara uma contradição incômoda: enquanto a conectividade cresce, aumentam também as desigualdades e os riscos ao desenvolvimento infantil, sobretudo entre crianças de famílias de baixa renda. Dados recentes mostram que 23% das crianças brasileiras acessaram a internet em 2024, ante 11% em 2015, um salto que redefine a relação entre infância, tecnologia e cuidado.
Crescimento acelerado entre bebês e crianças pequenas
O levantamento indica que a exposição digital já alcança quase metade dos bebês de até 2 anos e mais de 70% das crianças entre 3 e 5 anos. Esse cenário contrasta diretamente com as recomendações médicas. A Sociedade Brasileira de Pediatria não indica o uso de telas para menores de 2 anos e orienta, para crianças de 2 a 5 anos, limite máximo de uma hora diária, sempre com supervisão adulta.
A expansão do acesso, portanto, não ocorre de forma neutra. Ao contrário, ela redefine rotinas familiares e substitui, em muitos contextos, o brincar, a convivência e a interação humana, elementos centrais para o desenvolvimento saudável na primeira infância.
Desigualdade social amplia a exposição às telas
Os dados revelam que a desigualdade social atua como fator determinante. Entre famílias de baixa renda, 69% das crianças permanecem expostas a tempo excessivo de tela. Quanto menor a renda, maior a probabilidade de dispositivos digitais ocuparem o espaço do cuidado presencial, do brincar livre e da interação afetiva.
Especialistas apontam que esse fenômeno não resulta de negligência individual, mas de um contexto estrutural marcado por sobrecarga, ausência de políticas de apoio às famílias e falta de alternativas acessíveis de cuidado e lazer.
Impactos diretos no desenvolvimento cerebral
Estudos analisados indicam que o uso intenso e passivo de telas na primeira infância associa-se a alterações na anatomia cerebral. Essas mudanças afetam áreas ligadas à atenção voluntária, à linguagem, ao controle emocional e à cognição social.
A qualidade do conteúdo também exerce papel central. Conteúdos inadequados ou consumidos sem mediação adulta prejudicam o desenvolvimento da linguagem e a capacidade de autorregulação. Pesquisas mostram, inclusive, associação entre determinados desenhos animados e dificuldades de atenção em crianças entre 3 e 6 anos.
Riscos emocionais e comportamentais
A exposição a conteúdos violentos agrava o quadro. Evidências indicam redução da atividade cerebral associada à regulação do comportamento e aumento da ativação de áreas ligadas à agressividade. Esse tipo de consumo relaciona-se a maior risco de comportamentos hostis, ansiedade, depressão, distúrbios do sono e naturalização da violência como forma de resolução de conflitos.
Diante disso, pesquisadores alertam que a questão não se limita ao tempo de tela, mas envolve conteúdo, contexto e ausência de mediação consciente.
Políticas públicas e responsabilidade compartilhada
O estudo reforça a necessidade de políticas públicas intersetoriais que integrem saúde, educação, assistência social e proteção de direitos. Entre as recomendações estão campanhas de conscientização, formação qualificada de profissionais, fiscalização da classificação indicativa e combate à publicidade abusiva dirigida às crianças.
Além disso, os especialistas defendem o fortalecimento de redes de apoio às famílias, a criação de espaços públicos para o brincar e a promoção da educação digital desde os primeiros anos, com foco no equilíbrio entre tecnologia, vínculos reais e experiências fundamentais para o desenvolvimento humano. Reportagem da Agência Brasil.
FAQ sobre acesso à internet na primeira infância
Por que o aumento do acesso à internet na primeira infância preocupa especialistas?
Porque ocorre em uma fase crítica do desenvolvimento cerebral, quando a interação humana, o brincar e o vínculo afetivo são insubstituíveis. O uso excessivo e sem mediação pode comprometer linguagem, atenção e regulação emocional.
O problema é a tecnologia ou a forma como ela é usada?
O principal risco está no uso inadequado. Tempo excessivo, conteúdo impróprio e ausência de supervisão adulta ampliam os impactos negativos, especialmente na primeira infância.
Por que crianças de baixa renda são mais expostas às telas?
Porque enfrentam contextos de maior sobrecarga familiar, menos acesso a espaços de lazer, menor oferta de políticas públicas de apoio e, muitas vezes, usam as telas como substituto do cuidado presencial.
Quais são os principais impactos das telas no cérebro infantil?
Alterações em áreas ligadas à atenção, linguagem, controle emocional e cognição social, além de maior risco de problemas comportamentais quando há exposição a conteúdos violentos.
O que pais, cuidadores e o poder público podem fazer?
Pais e cuidadores devem estabelecer limites, acompanhar conteúdos e priorizar interação presencial. Já o poder público precisa investir em políticas de apoio às famílias, educação digital, espaços para o brincar e regulação da oferta de conteúdo infantil.
Rogério Victorino
Jornalista especializado em entretenimento. Adora filmes, séries, decora diálogos, faz imitações e curte trilhas sonoras. Se arriscou pelo turismo, estilo de vida e gastronomia.
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