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A chuva continua mais fria ainda: uma crônica sobre memórias, solidão e um reencontro
A chuva continuava, assim como o frio que se infiltrava pelas frestas das janelas e portas, fazendo a madeira estalar em lamentos constantes. Era uma chuva fina e insistente, que parecia sussurrar segredos de lugares distantes e de tempos esquecidos.
Cada gota que caía no telhado de telhas vermelhas ressoava como um eco suave de uma melodia triste, uma canção sem refrão que narrava histórias de amores perdidos e de dias ensolarados, agora escondidos atrás de nuvens eternas.
O vento, cúmplice da chuva, invadia os cômodos, trazendo um arrepio que percorria a espinha e fazia as mãos buscarem por um casaco, um abraço, qualquer coisa que proporcionasse calor. As velhas árvores no quintal dançavam uma dança melancólica, suas folhas tremulando, como se tentassem se libertar de um peso invisível.
Dentro da casa, as luzes amareladas das lâmpadas criavam sombras longas e sinuosas nas paredes. A lareira, mesmo acesa, parecia não conseguir competir com o frio que vinha de fora. O crepitar das chamas oferecia um consolo suave, um murmúrio reconfortante em meio ao som contínuo da chuva.
Sentada na poltrona, ela segurava uma xícara de chá fumegante entre as mãos. O aroma de ervas aquecia-lhe o coração, mas seus pensamentos estavam distantes. Recordava-se de outras chuvas, de outros tempos. Quando a chuva era um pretexto para se encolher debaixo do cobertor com um bom livro, ouvir música suave e compartilhar silêncios e sorrisos com alguém especial.
Agora, porém, a chuva parecia mais fria, mais solitária. Cada gota que escorria pela vidraça era como uma lágrima que se recusava a cair. O tic-tac do relógio na parede marcava o ritmo de uma espera interminável, de um tempo suspenso entre o presente e o passado.
Ela fechou os olhos por um momento, tentando se perder nas boas lembranças, nas memórias de dias ensolarados e noites estreladas. Mas a chuva, com seu toque gelado, a trazia de volta ao presente. Um presente em que a solidão era sua única companhia, e a chuva, mais fria do que nunca.
Ainda assim, havia uma beleza triste nesses dias chuvosos. Uma beleza que só se revelava para aqueles que tinham a paciência de ouvir, de sentir e de se deixar envolver pelo som das gotas caindo, pela dança das folhas ao vento, pelo crepitar das chamas na lareira.
E assim, ela permanecia ali, na poltrona, com sua xícara de chá e suas lembranças. A chuva continuava fria, mas, de certa forma, havia um conforto naquela constância, naquele ciclo eterno de nuvens e gotas, de frio e calor, de presença e ausência. Ela sabia que, um dia, o sol voltaria a brilhar e o frio se dissiparia.
Até lá, deixava-se embalar pela melodia da chuva, pela poesia escondida em cada gota, em cada sopro de vento, em cada estalar da madeira. Pois, mesmo na mais fria das chuvas, havia sempre um vestígio de esperança, uma promessa de dias melhores, de momentos mais quentes, de novos sorrisos.
E era essa esperança que a fazia continuar, dia após dia, gota após gota, até o reencontro final, lá onde o sol brilha e as estrelas não deixam de piscar, para reencontrar o seu eterno amor.
Rubens Muniz Junior
Rubens de Azevedo Muniz Junior, economista, administrador de empresa, trader aposentado, 82 anos de idade, nascido em Pirajuí, é poeta, cronista, contista, romancista e amante de boa leitura. Viajou e residiu, a trabalho, fora do Brasil.
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