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Dia de domingo: uma crônica de saudade e aprendizados ao lado de Mário Quintana
Há muitos anos, por volta do final de 70, conheci e convivi em Porto Alegre com o meu grande mestre Mário Quintana. Com ele aprendi, vivi, respirei literatura, poesias, enfim, um modo de ser escritor.
Dos passarinhos, das ruas com cata-ventos, das tardes à volta de uma mesa tomando chimarrão, das histórias, das risadas e tudo mais. Cada encontro era um aprendizado, uma imersão no universo encantado das palavras e dos sentimentos.
No seu dia de domingo, quando lia preguiçosamente o seu Diário, comentando sobre as hilárias notícias, Mário transformava o ordinário em extraordinário. Ele se deliciava com as colunas pitorescas, como “O cachorro da vizinha fez mal à sua empregada”, que, em suas mãos, virava quase um conto humorístico.
As notícias corriqueiras de um jornal ganhavam nova vida e significado através dos seus olhos e palavras.
Lembro-me dele rindo das trivialidades dos obituários, refletindo sobre a finitude da vida com a leveza que só ele tinha. Suas observações, por mais simples que fossem, carregavam uma profundidade poética que tocava o coração.
O mundo parecia mais interessante, mais vibrante, quando visto através da lente de Mário Quintana.
Hoje, já não há mais cadernos de cultura como aqueles que ele tanto gostava. A sociedade mudou e, com ela, a forma como consumimos notícias e apreciamos a arte. Mas a essência daquilo que ele nos ensinou permanece.
A capacidade de encontrar beleza no cotidiano, de transformar a simplicidade em poesia, de viver a vida com curiosidade e encanto — isso, felizmente, não se perde.
Neste domingo, ao recordar os dias passados com Mário Quintana, sinto uma saudade profunda. Saudade dos tempos em que a literatura era vivida intensamente, das conversas cheias de sabedoria e do riso fácil diante das pequenas ironias da vida.
Sinto saudade do mestre que, com seu jeito único, fez do ato de escrever uma verdadeira celebração da vida.
E assim, nos pequenos gestos e lembranças, Mário Quintana continua presente. Em cada passarinho que pousa na minha janela, em cada rua com seus cata-ventos invisíveis, em cada tarde preguiçosa de domingo.
A poesia está em toda parte, basta olhar com os olhos de quem aprendeu a ver o mundo com a sensibilidade de um grande poeta.
Saudades, mestre querido…
Rubens Muniz Junior
Rubens de Azevedo Muniz Junior, economista, administrador de empresa, trader aposentado, 82 anos de idade, nascido em Pirajuí, é poeta, cronista, contista, romancista e amante de boa leitura. Viajou e residiu, a trabalho, fora do Brasil.
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