As almas não morrem: uma história de amor em crônica que renasce além da morte

História de amor e fé na Roma de Nero, onde Galeria e Thomyres provam que as almas não morrem, renascendo além da morte.
As almas não morrem: uma história de amor em crônica que renasce além da morte
Foto: Canva

Roma, 96 d.C. O Império Romano, governado por Nero, continuava a expandir suas fronteiras com brutalidade. Povos pacíficos eram subjugados, derrotados e escravizados. Nesse cenário sombrio de perseguições implacáveis aos novos cristãos, nasceu uma história de amor destinada a vencer todas as barreiras, inclusive a morte física. Um amor que renasceria em cada época até, finalmente, reunir os dois amantes.

Galeria, uma jovem de origem gaulesa, com apenas 13 anos, foi capturada e levada como escrava para Roma. Vendida ao senador Julius Caio, a dor profunda pela perda da família, aos poucos, cedeu lugar à descoberta de uma nova fé. Essa religião falava sobre amor, perdão e caridade, ensinando que a verdadeira vida estava ao lado daquele que entregou sua própria vida pela salvação da humanidade: Cristo.

Guiada por Núbia, uma escrava egípcia com cerca de 40 anos, Galeria foi levada às catacumbas nos arredores de Roma. Ali conheceu Jonas, um pregador que falava sobre Jesus, o Deus único que pregava igualdade, liberdade e amor entre os povos. Durante os encontros clandestinos, repetiam uma oração comovente: “Pai nosso que estás nos céus… Amém”.

O Cristianismo, proibido por Nero sob pena de morte, crescia silenciosamente. Mesmo sob o risco constante de execução, os seguidores de Cristo desafiavam seus perseguidores, reunindo-se semanalmente nas catacumbas. Essas galerias subterrâneas, temidas pelos romanos como moradas de espíritos da morte, tornaram-se santuários de resistência e fé.

Foi durante essas fugas para ouvir os ensinamentos cristãos que Galeria conheceu Thomyres, um escravo egípcio, vendido ainda criança em uma praça pública e comprado por uma família patrícia de comerciantes de tecidos. Assim que seus olhares se cruzaram, souberam: encontraram o amor com que sempre sonharam. Apesar das promessas e planos, ambos sabiam que o futuro pertencia aos seus senhores.

Enquanto o amor entre eles florescia, a repressão aumentava. Soldados romanos capturavam cristãos diariamente, levando-os ao Coliseu para satisfazer a sede de sangue da multidão. Ali, os inocentes eram massacrados sob o lema do “Pão e Circo”, tombando nas lâminas dos gladiadores ou nas presas dos animais famintos.

Em uma noite de culto, enquanto Jonas falava sobre a multiplicação dos peixes às margens do Jordão, soldados invadiram o templo improvisado, iluminado apenas por tochas de sebo de carneiro. Muitos foram mortos no ato; os sobreviventes, levados às prisões de Roma.

Acorrentados e humilhados, Galeria e Thomyres foram jogados no chão sujo e fétido da prisão. Mais tarde, enjaulados sobre rodas de madeira, seguiram em direção ao grande palco: a arena onde, antes branca, a areia tingia-se de vermelho com o sangue dos cristãos. As jaulas se abriram e os prisioneiros foram lançados ao solo. Galeria, abraçada a Thomyres, junto aos outros, entoou com fervor a oração do Pai Nosso.

Os gladiadores, com suas adagas, feriram os corpos, não para matá-los, mas para fazê-los sangrar e, assim, aguçar o faro e a fome dos feroces animais. As portas se abriram e diversos tigres, pesando mais de 300 quilos e com dentes tão afiados quanto lâminas de aço, avançaram. Rasgaram carnes, dilaceraram corpos e pisotearam o que antes eram apenas almas sofridas e esperançosas.

No entanto, mesmo diante da barbárie, o amor entre Galeria e Thomyres não morreu. Pois as almas, como se sabe, não morrem… jamais.

Rubens Muniz Junior

Rubens de Azevedo Muniz Junior, economista, administrador de empresa, trader aposentado, 82 anos de idade, nascido em Pirajuí, é poeta, cronista, contista, romancista e amante de boa leitura. Viajou e residiu, a trabalho, fora do Brasil.

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