Benditas noites mal dormidas: uma crônica poética sobre adeus, silêncio e saudade

Rubens Muniz escreve sobre a dor do adeus não dito e o silêncio que acompanha a ausência. Uma despedida eterna em forma de poesia.
Benditas noites mal dormidas: uma crônica poética sobre adeus, silêncio e saudade
Foto: Canva

E, no meio da confusão,
alguém partiu…
sem sequer dizer adeus.

Foi triste.
Mas talvez fosse ainda mais triste se houvesse uma despedida.

Talvez tenha sido melhor assim:
uma separação como às vezes acontece num baile de carnaval —
alguém se perde da outra, procura por um instante,
e depois se entrega ao próximo cordão.

É melhor, talvez, que os amantes pensem
que, na última vez em que se viram,
se amaram intensamente.
E que, depois disso, simplesmente…
não se encontraram mais.

Não houve adeus.
A vida os despediu —
cada um para seu lado,
sem glória,
sem humilhação.

Acho que ainda nos é permitido
guardar uma leve tristeza,
uma lembrança suave.

Não é pecado confessar que às vezes sentimos saudades,
nem é crime dizer que a separação,
além da dor, trouxe um certo alívio,
um sossego abafado,
um indefinível remorso
e um discreto despeito.

Houve momentos perfeitos —
e mesmo que tenham passado,
não se perderam.
Eles ficaram em nós.

E, quando a lembrança vem,
amplia o silêncio da nossa solidão,
mas essa solidão… fica menos amarga.

Porque, que importa se a estrela já morreu,
se ainda brilha no fundo da nossa noite
e do nosso sonho confuso?

Talvez não mereçamos imaginar outros verões,
mas, se eles vierem,
que venham leves,
e nos encontrem obedientes,
como as cigarras e as paineiras —
com flores nos olhos
e cantos nas mãos.

Sim, o inverno — tu te lembras —
nos feriu.
Não havia flores.
Não havia mar.
E nós dois, sacudidos de um lado para outro,
como bonecos nas mãos de um titereiro inábil.

Talvez valesse a pena dizer
que houve um telefonema
que não chegou a acontecer.
Mas talvez, mesmo que houvesse,
nada adiantaria.

Para quê explicações?
Esqueçamos as pequenas dores,
as rusgas e silêncios.
Deixemos o silêncio suavizar as feridas.

Recordemos apenas as coisas douradas.
E digamos, apenas…
a pequena palavra: adeus.

A pequena palavra que se estende
como o canto de uma cigarra
perdido
numa tarde de domingo.

Rubens Muniz Junior

Rubens de Azevedo Muniz Junior, economista, administrador de empresa, trader aposentado, 82 anos de idade, nascido em Pirajuí, é poeta, cronista, contista, romancista e amante de boa leitura. Viajou e residiu, a trabalho, fora do Brasil.

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