O encanto da fonte de Itororó: uma crônica sobre saudade, magia e descobertas interiores

Uma fonte seca revela segredos da alma em uma crônica poética sobre nostalgia, amor e a magia que vive dentro de nós.
O encanto da fonte de Itororó: uma crônica sobre saudade, magia e descobertas interiores
Foto: Wiki Commons

Naquela manhã ensolarada, decidi revisitar um pedaço da minha infância. Itororó — nome que ressoa como melodia em minha memória — me chamava para uma jornada de nostalgia. A famosa fonte de Itororó, situada nas colinas verdes de Santos, sempre foi mais do que um simples lugar para matar a sede. Era um santuário de histórias e lendas, um portal para um mundo encantado.

Ao me aproximar da fonte, fui tomado por uma sensação de encantamento. As árvores ao redor sussurravam segredos antigos com o vento, e o murmúrio da água correndo pelas pedras era como uma canção suave que aquietava o coração. Mas, para minha surpresa, ao me inclinar para beber da água cristalina, percebi que a fonte estava seca. Um vazio inesperado apertou meu peito — como poderia a tão reverenciada fonte estar sem água?

Enquanto contemplava o mistério da fonte seca, ouvi passos leves atrás de mim. Virei-me e me deparei com uma visão que parecia saída de uma história de amor: uma linda morena, com olhos que refletiam a profundidade do oceano e um sorriso capaz de iluminar todo o vale. Ela estava ali, como parte da paisagem, uma guardiã silenciosa daquele lugar sagrado.

— Você também veio procurar a água da fonte? — perguntei, tentando disfarçar meu espanto diante de tanta beleza etérea.

Ela sorriu com doçura — um sorriso que parecia conter todos os segredos do mundo. — Sim, mas a água que você busca não é a mesma que eu procuro. Às vezes, o que realmente necessitamos não está à vista, mas em nossas almas.

Suas palavras ecoaram dentro de mim como um lembrete de algo esquecido. Sentamos juntos à beira da fonte seca, e ela começou a contar a história de Itororó, tecida com fios de magia e realidade.

— Há muito tempo — começou — a fonte de Itororó era conhecida não só por sua água pura, mas por conceder desejos àqueles que a encontrassem com um coração puro. Muitos vieram de terras distantes, atraídos pela lenda. Mas, com o tempo, as pessoas passaram a buscá-la por interesse egoísta, e sua magia começou a desaparecer.

— Mas ainda existe magia aqui — interrompi. — Posso senti-la ao meu redor.

Ela assentiu, os olhos brilhando com serenidade. — Sim, ainda há magia. Mas é uma magia que não se vê com os olhos. É a magia do amor, da esperança e da verdadeira busca pelo que é essencial. A fonte seca é um lembrete de que nem sempre encontramos o que procuramos, mas podemos descobrir algo ainda mais valioso.

Enquanto ela falava, compreendi que a busca pela água da fonte era, na verdade, uma metáfora para algo mais profundo em nossas vidas. E ali, ao lado daquela linda morena, encontrei outra fonte — uma fonte de inspiração, de conexão humana e de compreensão.

Passamos o resto do dia explorando as colinas, rindo e compartilhando histórias. Cada instante parecia carregado de um significado maior, como se estivéssemos redescobrindo a essência da vida. Quando o sol começou a se pôr, senti uma leve tristeza pelo fim do dia, mas também uma gratidão imensa por ter vivido algo tão precioso.

Ao me despedir da morena, ela me presenteou com um último sorriso — um que guardarei para sempre em minha memória.

— Lembre-se — disse ela — a verdadeira fonte de Itororó está dentro de você. Sempre que precisar, olhe para dentro… e encontrará o que procura.

Voltei para casa com o coração leve e a mente desperta. A fonte de Itororó pode estar seca, mas a jornada até lá me ensinou que as fontes mais importantes não são as que vemos — são aquelas que sentimos. E essa descoberta será um tesouro que levarei comigo para sempre.

Rubens Muniz Junior

Rubens de Azevedo Muniz Junior, economista, administrador de empresa, trader aposentado, 82 anos de idade, nascido em Pirajuí, é poeta, cronista, contista, romancista e amante de boa leitura. Viajou e residiu, a trabalho, fora do Brasil.

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