Iemanjá e o sincretismo religioso: sua conexão com santas católicas e a fé popular

Iemanjá e sua conexão com santas católicas no sincretismo religioso. Entenda sua importância na fé e nas tradições populares.
Iemanjá e o sincretismo religioso: sua conexão com santas católicas e a fé popular
Foto Era Sideral / Direitos Reservados

Iemanjá é uma das divindades mais veneradas das religiões afro-brasileiras, sendo cultuada na Umbanda e no Candomblé como a grande mãe das águas. Sua força e simbolismo atravessam séculos e fronteiras religiosas, ganhando um lugar especial na espiritualidade popular.

Com o processo de sincretismo religioso, a orixá foi associada a diversas figuras do catolicismo, especialmente Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da Conceição. Essa fusão cultural possibilitou a continuidade do culto a Iemanjá no Brasil, tornando-a um dos orixás mais conhecidos e reverenciados, dentro e fora dos terreiros.

Neste artigo, exploramos a história de Iemanjá, sua relação com o sincretismo religioso e como suas celebrações se mantêm vivas na cultura popular.

Quem é Iemanjá?

Iemanjá é uma orixá de origem iorubá, adorada como a mãe dos oceanos e protetora da família, da fertilidade e da maternidade. Seu nome vem da expressão em iorubá “Yemọja”, que significa “mãe cujos filhos são peixes”, uma referência à abundância e à proteção da vida.

Nas religiões de matriz africana, Iemanjá é vista como uma divindade poderosa, capaz de conceder bênçãos, orientar espiritualmente e proteger aqueles que recorrem a ela. Seu arquétipo materno a transforma em um refúgio para aqueles que buscam amparo, equilíbrio emocional e auxílio nos desafios da vida.

O que é sincretismo religioso?

O sincretismo religioso é um fenômeno cultural que ocorre quando crenças de diferentes tradições se misturam, dando origem a novas formas de devoção. No Brasil, esse processo foi amplamente influenciado pela colonização e pela escravização de povos africanos, que trouxeram suas religiões e as adaptaram ao contexto católico imposto pelos europeus.

Durante o período colonial, as práticas religiosas africanas foram proibidas e severamente perseguidas. Para evitar punições, os escravizados passaram a associar seus orixás a santos católicos, mantendo suas tradições vivas de forma disfarçada. Foi assim que Iemanjá passou a ser identificada com figuras femininas do cristianismo.

Essa fusão entre crenças africanas e católicas permitiu a preservação das religiões afro-brasileiras, resultando no sincretismo que persiste até os dias atuais.

Iemanjá e as santas católicas

A conexão de Iemanjá com o catolicismo se deu principalmente pela semelhança de seus atributos com os de santas cristãs. As principais associações no sincretismo religioso são:

Nossa Senhora dos Navegantes – Essa é a associação mais conhecida entre Iemanjá e o catolicismo. Nossa Senhora dos Navegantes é a santa protetora dos marinheiros, pescadores e viajantes do mar. Sua festa, celebrada em 2 de fevereiro, coincide com a principal festividade de Iemanjá no Brasil.

Ambas as figuras são vistas como protetoras das águas e das pessoas que dependem do mar para sobreviver. Por isso, em muitos lugares, as homenagens a Iemanjá e a Nossa Senhora dos Navegantes se misturam, reunindo devotos de diversas crenças.

Nossa Senhora da Conceição – Em algumas regiões, Iemanjá também é associada a Nossa Senhora da Conceição, devido ao seu arquétipo materno e à ideia de pureza. A festa de Nossa Senhora da Conceição ocorre em 8 de dezembro, data que algumas tradições umbandistas adotaram para celebrar Iemanjá.

Nossa Senhora da Conceição simboliza a mãe acolhedora, a proteção divina e a generosidade, características muito presentes na figura de Iemanjá. Essa identificação fortaleceu ainda mais a conexão entre as duas tradições.

Outras associações

Além dessas duas santas, em algumas regiões Iemanjá também é sincretizada com:

  • Nossa Senhora da Assunção – por representar a elevação espiritual e a proteção divina;
  • Nossa Senhora Aparecida – devido à sua forte presença na fé popular brasileira.

O sincretismo entre Iemanjá e as santas católicas mostra como a fé pode unir diferentes tradições em um mesmo propósito espiritual.

Celebrações e oferendas a Iemanjá

2 de fevereiro: a grande festa de Iemanjá – O dia 2 de fevereiro é a principal data de celebração de Iemanjá. Em cidades como Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS), milhares de devotos se vestem de branco e azul e vão até as praias para prestar homenagens à Rainha do Mar.

As oferendas costumam incluir:

  • Flores brancas, como rosas e palmas;
  • Perfumes e espelhos (símbolos da vaidade e feminilidade de Iemanjá);
  • Comidas como arroz, manjar branco e frutas;
  • Barquinhos enfeitados, enviados ao mar como pedidos de bênção.

Segundo a tradição, se as oferendas forem levadas pelas ondas, significa que Iemanjá aceitou os pedidos. Caso voltem para a praia, acredita-se que o devoto deve refazer sua prece e tentar outra vez.

8 de dezembro: sincretismo com Nossa Senhora da Conceição – Algumas vertentes da Umbanda celebram Iemanjá no dia 8 de dezembro, sincretizando-a com Nossa Senhora da Conceição. Nessa data, fiéis realizam cultos e oferendas em terra firme, acendendo velas e fazendo pedidos à grande mãe.

A celebração reflete o sincretismo e a adaptação das tradições religiosas ao longo do tempo.

Iemanjá na cultura popular

A figura de Iemanjá ultrapassou os limites religiosos e se tornou um símbolo forte na cultura brasileira. Suas festividades atraem não apenas praticantes do Candomblé e da Umbanda, mas também católicos e pessoas de outras crenças que veem nela uma fonte de proteção e amparo.

Músicas, poesias e artes plásticas frequentemente retratam Iemanjá como a senhora do mar, exaltando sua beleza e força. Canções de artistas como Dorival Caymmi e Clara Nunes reforçaram sua imagem na música popular brasileira.

Além disso, sua imagem é amplamente comercializada em esculturas, estampas e acessórios, evidenciando seu impacto cultural.

Iemanjá: a grande mãe das águas

Iemanjá é um dos maiores símbolos do sincretismo religioso no Brasil, sendo reverenciada tanto nas religiões afro-brasileiras quanto na fé popular. Sua associação com santas católicas, especialmente Nossa Senhora dos Navegantes e Nossa Senhora da Conceição, demonstra como diferentes tradições podem coexistir e se complementar.

Mesmo com o passar dos séculos, sua força continua viva. Seja no Candomblé, na Umbanda ou na devoção independente, Iemanjá permanece sendo a mãe generosa que acolhe seus filhos com as águas do mar, trazendo proteção, amor e renovação espiritual.

Ton Rodrigues

Estudante de jornalismo, pai de 3 crianças e pintor amador nas horas vagas. Leitor voraz e apaixonado pela música, mas nunca correspondido. Nascido em terreiro de Umbanda, estudioso do Candomblé.

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