Exu e o Carnaval: a presença do orixá na maior festa popular do Brasil

Exu está presente no Carnaval de várias partes do Brasil, do Rio de Janeiro à Bahia, São Paulo e Pernambuco. Descubra sua relação com a festa!
Exu e o Carnaval: a presença do orixá na maior festa popular do Brasil
Foto: Era Sideral / Direitos Reservados

O Carnaval é a maior festa popular do Brasil e um espaço de celebração, resistência e expressão cultural. Entre os diversos elementos que compõem essa festa, a influência das religiões afro-brasileiras é profunda. Exu, orixá da comunicação, dos caminhos e do movimento, tem uma forte conexão com o Carnaval, sendo homenageado em blocos, desfiles de escolas de samba e rituais em várias partes do país.

Apesar de sua importância, a presença de Exu no Carnaval nem sempre foi bem recebida por setores conservadores da sociedade. Sua figura, frequentemente associada a estereótipos negativos, enfrenta preconceito e intolerância religiosa. No entanto, desfiles e homenagens ao orixá têm contribuído para desmistificar sua imagem e reforçar sua relevância na cultura afro-brasileira.

Este artigo explora a relação entre Exu e o Carnaval, destacando sua presença na festa em diferentes estados do Brasil e sua importância para a valorização das tradições afro-brasileiras.

Quem é Exu e por que ele tem conexão com o Carnaval?

Exu é um orixá do Candomblé e uma entidade da Umbanda, sendo um dos mais conhecidos e cultuados dentro das religiões de matriz africana. Ele é o mensageiro entre os mundos, responsável por abrir caminhos e garantir a comunicação entre os planos material e espiritual.

Ele é representado pelas cores vermelha e preta, pelo tridente e pela encruzilhada, símbolos de movimento, transformação e destino. Exu rege a fluidez da vida, e o Carnaval, com sua energia contagiante, reflete diretamente esses atributos.

O Carnaval, assim como Exu, é sinônimo de alegria, liberdade e comunicação. Além disso, muitas das manifestações carnavalescas, como os toques de atabaque, os cortejos e os afoxés, têm origem nas tradições africanas. Por isso, Exu se torna uma presença natural dentro da festa.

Exu no Carnaval do Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro é um dos grandes centros do Carnaval mundial, e a presença de Exu na festa já foi destacada em diversos momentos ao longo da história.

Década de 1970: Mãe Cacilda e o Exu Sete da Lira no Bloco da Lira

Nos anos 1970, a mãe de santo Cacilda de Assis, conhecida como Mãe Cacilda, fundou o Bloco da Lira, um grupo carnavalesco que exaltava as tradições afro-brasileiras.

Em 1971, um dos momentos mais marcantes ocorreu quando Mãe Cacilda desfilou incorporada pelo Exu Sete da Lira. Seu samba “Podes Voltar” ficou em terceiro lugar no concurso oficial da Secretaria de Turismo da Guanabara, superando blocos tradicionais, como o Cordão da Bola Preta.

Esse episódio foi um marco na valorização da cultura afro-brasileira no Carnaval carioca.

1989: Joãosinho Trinta e a censura ao Cristo maltrapilho

Em 1989, um episódio protagonizado pelo carnavalesco Joãosinho Trinta demonstrou como as manifestações culturais e religiosas enfrentam resistência no Carnaval.

A Beija-Flor trouxe para a Sapucaí um carro alegórico representando um Cristo negro maltrapilho, uma crítica social à desigualdade no Brasil. No entanto, a alegoria foi censurada, e, em resposta, Joãosinho cobriu a imagem com um pano preto e colocou uma faixa com a frase “Mesmo proibido, olhai por nós”.

Esse episódio reforçou o debate sobre o preconceito contra expressões culturais afro-brasileiras no Carnaval.

2022: Grande Rio campeã com Exu no enredo

Em 2022, a Acadêmicos do Grande Rio fez história ao conquistar seu primeiro título no Grupo Especial com o enredo “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”.

A escola desmistificou a figura de Exu, explicando sua verdadeira essência e importância dentro da cultura afro-brasileira. O desfile trouxe um samba-enredo vibrante e alegorias impressionantes, ajudando a desconstruir a visão equivocada de Exu como um ser maligno.

Essa vitória foi um marco no reconhecimento das religiões de matriz africana dentro do Carnaval carioca.

2025: União de Maricá homenageia Exu Sete da Lira

Em 2025, a escola de samba União de Maricá, desfilando na Série Ouro, apresentou o enredo “O cavalo de Santíssimo e a coroa do Seu 7”, uma homenagem ao Exu Sete da Lira.

O desfile contou a história dessa entidade, celebrada por Mãe Cacilda, reforçando a presença de Exu na cultura popular.

Exu no Carnaval da Bahia

Na Bahia, onde o sincretismo religioso é forte, Exu é reverenciado durante o Carnaval em rituais e apresentações culturais.

Padê de Exu: a abertura espiritual do Carnaval

O Afoxé Filhos de Gandhy, um dos blocos mais tradicionais do Carnaval de Salvador, realiza o Padê de Exu antes de iniciar seus desfiles. Esse ritual busca proteção e permissão do orixá para garantir um Carnaval seguro e harmonioso.

Baco Exu do Blues e Ilê Aiyê celebram Exu

O rapper Baco Exu do Blues, cujo nome faz referência ao orixá, tem levado a cultura afro-brasileira para o Carnaval baiano. Já o bloco afro Ilê Aiyê, um dos mais antigos e respeitados, reforça a presença de Exu em seus desfiles e canções.

Exu no Carnaval de outras partes do Brasil

Além do Rio de Janeiro e da Bahia, Exu também é reverenciado no Carnaval em outros estados.

São Paulo

Em São Paulo, diversas escolas de samba e blocos afro têm incorporado homenagens a Exu. Essa tendência tem crescido como resposta à intolerância religiosa, fortalecendo a cultura afro-brasileira.

Pernambuco

O Carnaval pernambucano, com seus maracatus e afoxés, também reverencia Exu. Muitos grupos realizam oferendas ao orixá antes dos cortejos para garantir proteção e boas energias durante as festividades.

Minas Gerais

Em Minas Gerais, blocos como os afoxés trazem homenagens a Exu em seus desfiles, promovendo o resgate da ancestralidade africana na festa.

Exu e o Carnaval Brasileiro

A presença de Exu no Carnaval é uma celebração da cultura afro-brasileira e um símbolo de resistência. Seja no Rio de Janeiro, na Bahia, em São Paulo ou em Pernambuco, Exu é lembrado como o guardião dos caminhos e o mensageiro da alegria e do movimento.

A cada ano, sua história ganha mais espaço, combatendo estereótipos negativos e promovendo o respeito às religiões de matriz africana. O Carnaval é um espaço de liberdade e diversidade, e Exu, com sua energia e força, segue abrindo caminhos para que essa celebração continue sendo uma manifestação viva da ancestralidade brasileira.

Ton Rodrigues

Estudante de jornalismo, pai de 3 crianças e pintor amador nas horas vagas. Leitor voraz e apaixonado pela música, mas nunca correspondido. Nascido em terreiro de Umbanda, estudioso do Candomblé.

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