Orixás e o Carnaval: a espiritualidade afro-brasileira na maior festa do mundo

Orixás e o Carnaval se entrelaçam em uma celebração de fé, cultura e resistência. Descubra como os orixás moldam a maior festa do Brasil.
Orixás e o Carnaval: a espiritualidade afro-brasileira na maior festa do mundo
Foto: Era Sideral / Direitos Reservados

O Carnaval brasileiro é uma das maiores manifestações culturais do mundo, marcado pela diversidade artística e pela alegria contagiante que toma conta das ruas, avenidas e sambódromos. Por trás dessa festa vibrante, há uma conexão profunda com a espiritualidade afro-brasileira, expressa através da presença dos orixás, divindades de origem africana que desempenham um papel central nas religiões de matriz africana praticadas no Brasil.

Os orixás, trazidos pelos povos iorubás, jejes e bantos, são venerados no Candomblé e na Umbanda, e sua influência no Carnaval pode ser vista em diversas expressões culturais, como os afoxés da Bahia, maracatus de Pernambuco, blocos afro do Maranhão e escolas de samba do Rio de Janeiro e São Paulo.

Neste artigo, exploramos a presença dos orixás no Carnaval em todo o Brasil, analisando como essas divindades são homenageadas e representadas nas festividades carnavalescas, destacando a riqueza e a diversidade da cultura afro-brasileira.

Orixás na Bahia: o berço da religiosidade afro-brasileira

A Bahia é o estado que mais preserva as tradições afro-brasileiras no Carnaval. Salvador, sua capital, é um dos maiores centros do Candomblé, e essa influência se reflete nas festas de rua, nos blocos afro e nos afoxés.

Blocos Afro e Afoxés: a voz dos orixás nas ruas de Salvador

Os blocos afro e afoxés desempenham um papel fundamental na valorização da cultura e religiosidade africana. Esses grupos reverenciam os orixás por meio da música, das cores e dos símbolos sagrados.

  • Ilê Aiyê (fundado em 1974): Exalta a ancestralidade africana e homenageia orixás como Xangô e Iansã.
  • Olodum (fundado em 1979): Conhecido por seus tambores poderosos, já homenageou Oxum, Iemanjá e Exu.
  • Filhos de Gandhy (fundado em 1949): O afoxé mais famoso do Brasil, dedicado a Oxalá, orixá da paz. Os integrantes vestem branco e azul e desfilam espalhando alfazema.

Além disso, no dia 2 de fevereiro, antes do Carnaval, ocorre a Festa de Iemanjá, uma das maiores homenagens à Rainha do Mar, onde devotos fazem oferendas e pedidos à orixá.

Orixás no Rio de Janeiro: a força dos enredos das escolas de samba

No Rio de Janeiro, o Carnaval tem nos desfiles das escolas de samba sua principal manifestação. Muitas dessas escolas já homenagearam os orixás em seus enredos, promovendo a valorização das tradições afro-brasileiras.

Escolas de samba que exaltaram os orixás

  • Grande Rio (2022): “Fala, Majeté! Sete Chaves de Exu”, desmistificando Exu.
  • Beija-Flor (1983): “A Grande Constelação das Estrelas Negras”, exaltando os orixás e sua força.
  • Portela (1972): “Ilu Ayê – Terra da Vida”, sobre a criação do mundo na mitologia africana.
  • Salgueiro (2007): “Candaces”, destacando as iabás (orixás femininos) e a força das mulheres negras.
  • Império Serrano (1982): “Bumbum Paticumbum Prugurundum”, abordando os orixás e os tambores africanos.

As alegorias e fantasias dessas escolas trazem representações visuais dos orixás, utilizando suas cores sagradas e símbolos para criar desfiles carregados de espiritualidade e axé.

Orixás em São Paulo: a influência nas escolas de samba e blocos afro

O Carnaval de São Paulo tem se consolidado como um dos maiores do Brasil, e a influência afro-brasileira se manifesta nos desfiles das escolas de samba e nos blocos afro, que celebram os orixás e a ancestralidade africana.

Escolas de samba paulistas que exaltaram os orixás

  • Vai-Vai: Tradicionalmente ligada à cultura negra, já homenageou diversos orixás em seus enredos.
  • Mocidade Alegre: Destacou a espiritualidade afro-brasileira em vários desfiles, incluindo temas sobre Iemanjá e Exu.
  • Nenê de Vila Matilde: Escola com forte tradição no Candomblé, frequentemente reverencia os orixás em seus desfiles.

Blocos afro e afoxés paulistas que celebram os orixás

  • Ilú Obá De Min: Grupo percussivo e bloco de Carnaval que celebra os orixás, especialmente as divindades femininas, como Oxum e Iansã.
  • Afoxé Filhos da Coroa de Dadá: Grupo que busca preservar as tradições afro-religiosas, desfilando com músicas e danças em homenagem a Oxalá.

Os blocos e escolas de samba de São Paulo desempenham um papel crucial na difusão da cultura afro-brasileira, transformando o Carnaval paulista em um espaço de resistência e celebração dos orixás.

Orixás em Pernambuco: maracatu e resistência ancestral

O Carnaval pernambucano é conhecido por suas raízes africanas, especialmente através do maracatu nação, manifestação cultural que mantém viva a espiritualidade afro-brasileira.

Maracatu e os orixás

Os maracatus nação têm uma estrutura semelhante à das antigas coroações dos reis africanos no Brasil, com cortejos e percussão intensa. Esses desfiles são carregados de referências aos orixás, especialmente:

  • Xangô: Reverenciado como patrono da justiça e da realeza.
  • Iansã: Evocada nos ritmos frenéticos dos tambores.
  • Ogum: Presente na força dos cortejos e nas danças guerreiras.

As Nações de Maracatu, como Estrela Brilhante e Nação Porto Rico, mantêm viva a tradição do culto aos orixás durante o Carnaval.

Orixás no Maranhão: os blocos afro e o tambor de mina

O Carnaval do Maranhão tem forte influência das religiões afro-brasileiras, especialmente do Tambor de Mina, religião afro-maranhense que cultua tanto orixás quanto voduns do culto jeje.

Os blocos afro do Maranhão celebram os orixás com ritmos percussivos poderosos e danças que remetem às cerimônias religiosas.

Outros estados onde os orixás estão presentes no Carnaval

Orixás em Minas Gerais

  • Congado mineiro: manifestação sincrética que celebra orixás e santos católicos.
  • Bloco Angola Janga e Bloco Tambolelê homenageiam Xangô, Iemanjá e Ogum no Carnaval de Belo Horizonte.

Orixás no Pará

  • O Carimbó e o Boi-Bumbá têm influências afro-brasileiras e conectam os orixás às festividades populares.
  • Bloco Afro-Ajé e Os Pretinhos do Mangue levam a força dos orixás ao Carnaval paraense.

Orixás no Ceará

  • O Maracatu Cearense mantém a tradição do culto aos orixás, principalmente Xangô e Iansã.

Orixás no Rio Grande do Sul

  • Afoxé Omo Odé e Bloco Afro Odomodê levam a tradição afro-brasileira ao Carnaval gaúcho.

Orixás e o Carnaval

A presença dos orixás no Carnaval brasileiro é uma demonstração da riqueza e diversidade cultural do país. O Carnaval não é apenas uma festa, mas um espaço de reverência, resistência e afirmação da identidade afro-brasileira.

Os tambores, danças e cânticos evocam o axé dos orixás, tornando o Carnaval um dos maiores símbolos da espiritualidade afro-brasileira.

Mais do que um espetáculo, o Carnaval é um ato de resistência, uma celebração da identidade negra e uma homenagem às divindades que guiam e protegem milhões de pessoas.

Ton Rodrigues

Estudante de jornalismo, pai de 3 crianças e pintor amador nas horas vagas. Leitor voraz e apaixonado pela música, mas nunca correspondido. Nascido em terreiro de Umbanda, estudioso do Candomblé.

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2 comentários para “Orixás e o Carnaval: a espiritualidade afro-brasileira na maior festa do mundo

  1. anri_br disse:

    Interessante artigo!

  2. anri_br disse:

    Excelente artigo!

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