O poder ancestral das Iabás: o sagrado feminino nas religiões de matriz africana

O poder ancestral das Iabás no Candomblé e na Umbanda. Descubra como o sagrado feminino influencia a espiritualidade e a conexão com a natureza.
O poder ancestral das Iabás: o sagrado feminino nas religiões de matriz africana
Foto: Era Sideral / Direitos Reservados

As religiões de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda, celebram o sagrado feminino por meio das Iabás, orixás femininas que representam forças da natureza e arquétipos femininos. Essas divindades ancestrais são guardiãs da sabedoria, do equilíbrio e da continuidade da vida, desempenhando um papel essencial no universo espiritual e na vivência dos fiéis.

O papel das mulheres nas religiões de matriz africana

A presença feminina é fundamental nos terreiros e comunidades religiosas. Sem o trabalho e o poder das mulheres, a organização e a manutenção da tradição se tornam impossíveis. Elas atuam como mães de santo, sacerdotisas, zeladoras e mediadoras entre os orixás e os devotos, garantindo a transmissão dos conhecimentos ancestrais.

No culto aos orixás, o feminino ocupa uma posição central. Além de serem referências espirituais, as mulheres desempenham funções de liderança, conduzindo ritos, aconselhando e mantendo viva a tradição. Essa força é simbolizada pelas Iabás, que representam aspectos essenciais da vida e da natureza.

A ancestralidade das Iabás na diáspora africana

O culto às Iabás remonta às tradições espirituais iorubás da África Ocidental, especialmente nas regiões onde hoje se encontram Nigéria, Benin e Togo. Com a diáspora africana causada pelo tráfico de escravizados, essas divindades foram trazidas para o Brasil e outros países da América, resistindo às tentativas de apagamento cultural.

No Brasil, as Iabás se manifestam no Candomblé e na Umbanda, preservando sua essência e ao mesmo tempo se adaptando às novas realidades culturais. Essa continuidade demonstra a força da ancestralidade e a importância do feminino na espiritualidade afro-brasileira.

Iabás: mães, guerreiras e guardiãs

A palavra Iabá, de origem iorubá, significa mãe, simbolizando o poder gerador e protetor dessas divindades. Cada Iabá rege um elemento natural e aspectos essenciais da existência humana, influenciando desde os ciclos de vida até as emoções e os destinos.

As principais Iabás e seus domínios

  • Iemanjá – Rainha do mar e mãe de todos os orixás. Representa a maternidade, a proteção e a abundância. Suas águas acalmam, purificam e renovam as energias.
  • Oxum – Senhora das águas doces, do amor, da prosperidade e da beleza. Ela desperta a sensualidade, promove a fertilidade e atrai riqueza e harmonia.
  • Nanã Buruque – A mais velha das Iabás, guardiã da sabedoria ancestral, da morte e do renascimento. Sua energia traz equilíbrio, cura e conexão com os antepassados.
  • Iansã – Guerreira dos ventos e tempestades, senhora da coragem, da transformação e da justiça. Impulsiona mudanças, quebra barreiras e protege contra adversidades.
  • Obá – A guerreira do rio que leva seu nome, símbolo da lealdade, resistência e superação. Sua força protege contra injustiças e garante conquistas.
  • Ewá – A virgem do rio, ligada à intuição, à vidência e à pureza. Concede clareza mental, proteção e revela mistérios do futuro.

A relação das Iabás com os elementos naturais

As Iabás são forças vivas da natureza, e cada uma delas governa um elemento que reflete sua personalidade e sua influência sobre o mundo.

  • Água – Iemanjá e Oxum estão ligadas às águas do mar e dos rios, respectivamente, representando a fluidez das emoções, a fertilidade e a abundância.
  • Terra – Nanã rege a lama, associada ao ciclo da vida, à ancestralidade e à transformação.
  • Ar – Iansã governa os ventos e tempestades, simbolizando mudanças repentinas e a força dos desafios.
  • Fogo – As energias de Iansã e Obá estão ligadas ao calor da batalha e à determinação diante dos obstáculos.

Cada devoto pode sentir uma conexão especial com uma ou mais dessas forças, dependendo de sua trajetória espiritual e de sua necessidade de equilíbrio.

Rituais e formas de conexão com as Iabás

O culto às Iabás envolve práticas que buscam fortalecer o vínculo com essas divindades e receber suas bênçãos. Algumas das formas mais comuns de conexão incluem:

  • Oferendas – São feitas com elementos que representam cada Iabá, como flores, perfumes, espelhos e alimentos específicos.
  • Orações e cânticos – As rezas e cantigas tradicionais são fundamentais para evocar a presença dessas divindades e pedir orientação.
  • Banhos de ervas – Utilizados para purificação, atração de boas energias e fortalecimento da conexão espiritual.
  • Dança e incorporação – No Candomblé, a manifestação das Iabás ocorre por meio da dança ritualística e da incorporação nos médiuns.

Cada ritual deve ser realizado com respeito e entendimento das tradições ancestrais, fortalecendo o elo entre os devotos e as Iabás.

A representação das Iabás na cultura e na arte

O culto às Iabás ultrapassa os terreiros e se manifesta na cultura popular brasileira. Na música, são celebradas em canções de artistas como Clara Nunes e Maria Bethânia. Na arte, aparecem em pinturas e esculturas que retratam sua força e beleza. No cinema e na literatura, suas histórias são resgatadas como forma de valorização da ancestralidade africana.

Essa presença na cultura reafirma a importância das Iabás na identidade afro-brasileira, mantendo vivo o respeito pelo sagrado feminino.

O legado ancestral do sagrado feminino

O culto às Iabás preserva a cultura e a espiritualidade dos povos africanos, fortalecendo o respeito à ancestralidade, à natureza e ao poder da mulher.

A força dessas divindades femininas continua a inspirar gerações, mostrando que o sagrado feminino é essencial para o equilíbrio do mundo e da espiritualidade.

FAQ sobre as Iabás e o sagrado feminino

O que são as Iabás?
As Iabás são orixás femininas que representam diferentes forças da natureza e aspectos da existência humana nas religiões afro-brasileiras.

Todas as mulheres podem se conectar com as Iabás?
Sim, as Iabás acolhem todas as mulheres e podem ser cultuadas por qualquer pessoa que busque conexão com o sagrado feminino.

Qual a importância do sagrado feminino nas religiões afro-brasileiras?
O sagrado feminino representa o poder criador, a proteção e a renovação da vida, sendo essencial para o equilíbrio e a continuidade das tradições espirituais.

Como as Iabás influenciam a vida dos devotos?
Cada Iabá rege aspectos diferentes, como o amor, a prosperidade, a justiça e a transformação, ajudando os devotos a superar desafios e encontrar harmonia.

O culto às Iabás pode ser feito fora dos terreiros?
Sim, é possível honrar as Iabás com oferendas, preces e práticas espirituais respeitosas mesmo sem frequentar um terreiro.

Ton Rodrigues

Estudante de jornalismo, pai de 3 crianças e pintor amador nas horas vagas. Leitor voraz e apaixonado pela música, mas nunca correspondido. Nascido em terreiro de Umbanda, estudioso do Candomblé.

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