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O despertar da consciência
Muito necessário frisar que o conceito de espiritualidade pode, ou não, ligar um indivíduo a uma vivência religiosa, uma vez que é inerente a espécie humana, independe de uma organização sistêmica ou grupal. Da mesma forma que raízes violentas e matrizes egocêntricas, o gosto pelo belo, pela alegria e pela vida social demonstram um ser em conflito com suas necessidades existenciais e coletivas.
A espiritualidade se revela como caminho, não simplesmente como destino, porque a todo o momento indica a ação no tempo presente através de subsídios existentes no homem: sua consciência. Quando o imperativo a vida e um novo patamar nas relações humanas e ecológicas surgem, é a consciência espiritual acionada em nosso DNA, o “Imago Dei”, a “voz” criativa e criadora que impulsiona crentes e não crentes para a execução do bem comum.
Mais uma vez, não se resume em aderir a qualquer religião existente ou grupos esotéricos e místicos, lembrando que os grandes líderes seguiram sua própria espiritualidade, mas um abrir de portas de dentro para fora, do intimo, pois não existe ninguém que não conheça o prazer e o amor, logo sabe a diferença entre o que é imanente e sensitivo, e o que é transcendente e intuitivo. Pois é esse veiculo, “amor”, que permite o cuidado pessoal e coletivo, algo intangível, mas que tem o poder de acabar com guerras, injustiças e abusos, reorientando decisões e a almejar dias melhores.
Tudo isso não acontece simplesmente pelo desejo, mas pela compaixão gerada pela empatia, algo que não se traduz em números, mas em estímulos neurais superiores ao conforto físico, mas da busca de uma tranquilidade interior. Esta busca que tem alimentado a espécie em seu desenvolvimento, mesmo na incompreensão do seu significado ou objetivo, mas como uma tarefa, a procura por um lugar mais alto e ao sol. Jose Saramago ao descrever seu processo criativo literário em uma entrevista, nos dá um belo exemplo:
No meu caso particular, o romance cresce como cresce uma árvore. Suponha que a árvore conhece a altura que terá, o aspecto geral da espécie a que pertence, mas sabe (imagino que sabe) que não será igual à sua vizinha. Os ramos podem nascer-lhe mais acima ou mais abaixo, apontar para um lado ou para outro. Se tem um plano de crescimento, é possível dizer que nesse plano há tanto de liberdade como de necessidade. Para mim, seria impensável estabelecer um plano rígido para o livro, com cada coisa no seu lugar e um lugar para cada coisa. As associações de idéias, processo mental que não controlamos, podem levar-nos por caminhos que não havíamos previsto. Também na escrita a liberdade vai de braço dado com a necessidade.
Não se pode afirmar se não é a própria certeza da impermanência da vida que alicerça essa procura por sentido, mas a resposta esta nas escolhas e elas tem demonstrado uma forte afinidade pela paz e a prosperidade entre os povos. Foi assim logo após a segunda guerra com a criação da ONU, artefatos criados para a guerra se transformaram em equipamentos hospitalares e agrícolas, o interesse pelos lugares inóspitos ganhou um novo olhar, a importância da tecnologia e do bem estar mundial diminuiu conflitos e gerou cooperação por soluções.
Percebe-se que as grandes crises mundiais permitiram avanços na forma coletiva de pensar, se relacionar e de lidar com os recursos naturais, foram esses estímulos que geraram novas organizações, tolerância e solidariedade, a exemplo do esforço coletivo mundial vivenciado na atual pandemia, à distância e o isolamento tem retomado o significado nas relações interpessoais. Uma questão fica em aberto: ultrapassamos nossa data limite de forma satisfatória, ou apenas iniciamos mais um ciclo de reconstrução, bem especificada por Francisco Cândido Xavier?
De qualquer forma é dentro de cada ser humano que reside à possibilidade da construção de uma civilização mais próspera e solidária. Acreditar e permitir o seu verdadeiro potencial, valorizando o humano interior na prática das boas ações. Pode parecer intangível ou inatingível, e nesse momento de incerteza o eu lírico presente em cada pessoa pode entender perfeitamente a frase que diz: sonho que se sonha só é só sonho, sonho que se sonha junto é realidade (Raul Seixas).
Sergio Bosco
Bacharel em Teologia pela PUC-SP com Extensão universitária em Doutrina social da Igreja pela Faculdade Dehoniana de Taubaté. Escritor, pesquisador e ensaísta.
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