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Cultura da brutalidade: os desafios da existência e o medo da vida
Vivemos em uma sociedade onde a cultura popular associa brutalidade à força, da mesma forma que sensibilidade à fraqueza. Uma, elevada a um posto de glória, controle e poder, relevando à outra a condição do desprezo, ridicularização e perseguição. Nas palavras de Pierre Bourdieu:
“Além de permitir à elite se justificar de ser o que é, a ideologia do dom, chave do sistema escolar e do sistema social, contribui para encerrar os membros das classes desfavorecidas no destino que a sociedade lhes assinala, levando-os a perceberem como inaptidões naturais o que não é senão efeito de uma condição inferior, e persuadindo-os de que eles devem o seu destino social (cada vez mais ligado ao seu destino escolar) à sua natureza individual e à sua falta de dom”.
Apesar de Jesus de Nazareth ter debatido calorosamente contra esse tipo de comportamento em diversos episódios de seus ensinamentos, ele mesmo enfrenta constantemente a militância daqueles que não compreendem a cultura do amor, da paz e da fraternidade. Repreendendo Pedro ao sacar uma arma, demonstra que a liberdade não se alcança com a prática da violência, mas apenas na certeza de atos virtuosos. Quando olhamos para vida de outra pessoa, a Espiritualidade ensina a recepção, a empatia pelo desconhecido e sua trajetória, a sensibilidade de acolher e recuperar ferimentos e enfermidades. Assim, médicos sanam corpos, psicólogos recuperam a mente, mas Jesus libertava a mente, corpo e o espírito ao receber carinhosamente todos que o procuravam. Sim, Jesus foi julgado um fraco e assim seria ainda hoje com apenas uma diferença: atualmente esse tipo de fraqueza tem status de santidade. As demais continuam sendo “frescuras” e “mimimis“, merecendo severidade, agressões e piadas.
Dependendo do tipo de dor e a incapacidade para lidar com algumas delas, muitos escolhem diariamente retirar a própria vida no desejo de acabar com o sofrimento e a angustia de esperar que alguém o faça violentamente. O silencio representa uma barreira adicional, pois dessa forma os demais não se dão conta de seu papel e responsabilidade no cuidado dos demais. Os fortes deveriam proteger os mais fracos, os mais velhos cuidar e orientar os novos, os sábios compartilhar seu conhecimento e os ricos, sua abundância. Sem competições, mas cada um dentro de sua vocação e habilidade, incentivado pelo grupo e parabenizado por suas diferenças e capacidades. Se parece um mundo utópico é porque ele reside dentro de cada ser humano aguardado a segurança de poder se revelar ao mundo. Todos esperam o retorno de uma grande alma que possa inspirar novamente a sociedade na senda da fraternidade, mas isso é transferir a responsabilidade que cada um tem de realizar o “mundo melhor”.
Comece devagar, não precisa de pressa e nem de grandes atos, basta mudar algumas atitudes, passe a dar bom dia a seus vizinhos. Com o tempo, comece a tratar bem funcionários e caixas de lojas, cumprimentar pessoas na rua, ai passe aos porteiros e ascensoristas. Quando estiver em grandes grupos, olhe as pessoas ao seu redor, não como potenciais conquistas, mas através de seus olhos e expressões se os sentimentos são de felicidade ou dor. Sorria com os alegres e tenha piedade dos que aparentam tristeza e angustia. Você se sentirá um pouco estranho no inicio, uma mistura de incomodo e vontade de mudar as coisas, mas fique calmo, isso se chama humanidade. Sempre esteve dentro, mas agora desperta para um mundo muito maior do que se poderia imaginar.
Sergio Bosco
Bacharel em Teologia pela PUC-SP com Extensão universitária em Doutrina social da Igreja pela Faculdade Dehoniana de Taubaté. Escritor, pesquisador e ensaísta.
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