O tempo e o perdão: do caos a luz na espiritualidade

A interseção entre espiritualidade e tempo, este texto revela como compreender o tempo pode desbloquear uma existência plena e consciente.
O tempo e o perdão: do caos a luz na espiritualidade
Foto: Canva

Quem não consegue definir o que é o tempo, ou encontrar formas para dimensionar sua passagem? Ciclos lunares ou solares, estações e colheitas, desde os tempos imemoriais o homem estabeleceu uma coerência para os fenômenos universais, mas ele conseguiu avaliar com a mesma profundidade sua própria realidade? Muitos mestres ocultistas anunciaram seus estudos e aprofundamento, mas as limitações e perseguições mantiveram seus conhecimentos afastados do conhecimento da grande massa humana. Assim, como o tempo pode revelar a nossa real condição existencial?

A Espiritualidade esta inserida dentro de cada ser e transmite sua fonte de conhecimento através de símbolos e imagens. Alguns chegam a um grau de semelhança impressionante e se levando em conta a distância cultural/geografia daqueles que as manifestaram, fica sem sentido a crença de que tudo esta relacionado ao mero acaso. Seja em sonhos, durante uma sessão de meditação, ou algum culto religioso, os símbolos representam a comunicação entre o inconsciente e o consciente. Mesmo quando não são totalmente claros em seus detalhes em um primeiro momento, o seu sentido mais amplo é claro e objetivo, escapando algumas vezes apenas a parte subjetiva que representa. Nas palavras de Jung:

“Tenho visto as pessoas tornarem-se frequentemente neuróticas quando se contentam com respostas erradas ou inadequadas para as questões da vida. Elas buscam posição, casamento, reputação, sucesso externo ou dinheiro, e continuam infelizes e neuróticas mesmo depois de terem alcançado aquilo que tinham buscado. Essas pessoas encontram-se em geral confinadas a horizontes espirituais muito limitados. Sua vida não tem conteúdo ou significado suficiente. Se têm condições para ampliar e desenvolver personalidades mais abrangentes sua neurose costuma desaparecer”.

Muitos nunca ouviram falar no “Ouroboros”, a serpente ou dragão que engole o próprio rabo, mas já viram, ouviram, ou intuitivamente desenharam algo parecido. Círculos são desenhados e aplicados inclusive na vida prática, mas como se identifica com o tempo? O tempo é facilmente reconhecido como algo finito em sua objetividade, mas internamente e agora com o auxilio da ciência, começa a se desvendar a subjetividade do tempo infinito, um circulo mantendo em movimento toda a matéria. Está mais claro? Não? Pense em você mesmo em sua subjetividade. Um ser consciente que movimenta matéria corporal e através desse mesmo corpo, movimenta outros corpos. Intrigante? De onde vem tanto poder e para que tanto poder?

Sabemos que o universo é criador. Uma energia subjetiva que origina e movimenta matéria gerando vida, nada diferente do homem, sua criação, nisso com certeza fica claro o conceito de imagem e semelhança, não muito diferente de tronco, cabeça e membros quando visualizamos uma árvore, um dos símbolos da vida e que produz frutos. Um círculo interminável de criação e cocriação. Adicione agora o tempo objetivo. Um ano, um século, uma vida? O que se procura exatamente conquistar através dessa fragmentação? Refletir numa realidade humana remete ao conceito de evolução, da capacidade de assimilar através dos fenômenos naturais, conceitos anteriormente considerados subjetivos e agora compartilhados com a ciência, tais como frequência e sintonia.

A ciência moderna esta redescobrindo as fontes de comunicação, mas a Espiritualidade já demonstrava o propósito e caminho desde tempos remotos através de símbolos e ensinamentos. O circulo perfeito, o perdão que possibilita a nova criação, uma nova frequência geradora de vida através da incondicionalidade. Jesus fala na frequência do espírito cocriador o assemelhando a uma criança amorosa e transbordante (Mt. 18). Quando não há sintonia com o perdão, se interrompe a troca, os afetos e sentimentos gerados por ele, a matéria determina o tempo e não mais o subjetivo. Tudo fica estagnado e se busca por respostas no passado distante e não na própria história.

Saber o que é o tempo permite permanecer presente e desfrutar de forma consciente e cognoscível, aplicando a própria existência em todo o seu sentido e essência, sem medos ou reticências, contribuindo através de seu intimo com o coletivo imediato e futuro. Assim é o Tempo. O universo e a Espiritualidade aguardam pacientemente durante os ciclos objetivos, se comunicando internamente e através de seus colaboradores, desejosos do momento em que o próprio tempo conterá o silêncio contemplativo da grande epopeia da luz em torno do caos.

Sergio Bosco

Bacharel em Teologia pela PUC-SP com Extensão universitária em Doutrina social da Igreja pela Faculdade Dehoniana de Taubaté. Escritor, pesquisador e ensaísta.

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