Os Cavaleiros do Apocalipse: a ação do homem contrária a espiritualidade

Durante séculos a Teologia do Medo impôs o seu moralismo como justificativa para o fratricídio.
Os quatro Cavaleiros do Apocalipse
Os quatro Cavaleiros do Apocalipse, por Viktor Vasnetsov / WikiCommons

“Meu Deus pune”, “meu Deus é vingador”, “meu Deus destrói o inimigo”. Se pensarmos em Deus segundo a ótica cristã, Deus é Pai. Foi essa mensagem de pacificação aos homens de boa vontade, enxergar ao outro como a um irmão. Mais que um irmão familiar, de um clã ou grupo, um irmão em essência. Sim, o Deus que Jesus apresenta esta na essência da humanidade e de tudo que permeia o universo. A simples ideia de um Deus/Pai que seria capaz de desejar à guerra, a fome, a peste e a morte para qualquer um de seus filhos, ferem a dialética e o principio cristão que pergunta: “que pai daria uma pedra para comer a um filho que lhe pedisse pão?”. Como justificar a Fome que se impõe as famílias e seres em meio a tanta fartura produtiva?

Quanto a Guerra, o primeiro dos cavaleiros, Jesus interrompe Pedro no momento em que esse corta o rosto de um guarda e sentencia: “aquele que vive pela espada, morre pela espada, então solta a arma”. Jamais em nenhuma tradução dos Evangelhos existiu a indicação de atacar, violar, agredir ou ferir qualquer pessoa, nem mesmo aqueles que os perseguiam. Inversamente pede o perdão e o acolhimento. Outro celebre personagem a citar como exemplo é Paulo, um belicista que assassina e persegue os lideres das comunidades, assim que cai em desgraça é recebido no seio do cristianismo. Como isso seria possível se a indicação fosse de ódio e destruição do inimigo?

A Peste tem sido disseminada pelo mundo com as ações contra a natureza e o homem. Na ganância de produzir riquezas e se destacar do grupo, empresas e setores não se importam com a saúde e o bem estar das populações, infringindo a regra básica da vida: a integralidade. Assim a prática adotada continua sendo a da exclusão daqueles que já não podem oferecer lucro, os quais teimosamente Jesus curava e reenviava à sociedade: “levanta e anda, a fé te curou”. Muitos mudavam de vida e constituíam novas raízes com base na caridade. Como não lembrar Francisco de Assis, jovem rico, que depois de uma guerra e de adoecer, percebeu a fragilidade e a importância da vida do planeta.

A Morte. Desejar a morte de outro, planejar a morte, compactuar ou efetuar, não apenas vai contra todo o ensinamento de Jesus, mas inclusive de sua raiz religiosa que é taxativa: “Não Matarás”. Uma instrução que não deixa duvida ou interpretações, mas que mesmo assim sofreu algumas nas palavras daqueles que jamais desejaram segui-las. “Deus Salva”. Intrigante saber que essa é a tradução literal para o nome Jesus e ele a cumpre, não mata e ao contrário, traz de volta a vida mortos de alma e de espírito. Homens que abandonaram o conforto e a proteção do Pai e se desventuraram em conflitos e ódio. E mesmo na morte, Ele retorna para dar a certeza que a vida sempre irá vencer a morte. Segundo Matheus:

“O olho é a luz do corpo. Se teu olho é são, todo o teu corpo será iluminado. Se teu olho estiver em mau estado, todo o teu corpo estará nas trevas. Se a luz que está em ti são trevas, quão espessas deverão ser as trevas! Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou odiará a um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro… Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo. Não vos preocupeis, pois, com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações próprias. A cada dia basta o seu cuidado.”

Sergio Bosco

Bacharel em Teologia pela PUC-SP com Extensão universitária em Doutrina social da Igreja pela Faculdade Dehoniana de Taubaté. Escritor, pesquisador e ensaísta.

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