A verdadeira caça às bruxas: a violência da Igreja contra mulheres na Idade Moderna

A história da bruxaria revela como a Igreja perseguiu milhares de mulheres, moldando o imaginário cristão com violência e misoginia.
A verdadeira caça às bruxas: a violência da Igreja contra mulheres na Idade Moderna
Foto: Era Sideral / Direitos Reservados

Na história cristã a figura da Bruxa é constantemente abordada como o contraponto da Santa, da mesma forma que a virgem é tida como o antônimo da prostituta. Estudos situados na Idade Moderna apontam que a ideia de “bruxaria” se propagou na Europa no século XVI.

A brutalização da Igreja inquisitorial atingiu sobretudo mulheres, cerca de 70% a 90% das acusadas e condenadas. A historiadora Margaret King problematiza esse tema:

“A palavra maléfica, convém notar, é um substantivo feminino. Na opinião de peritos como Heinrich Kramer e Jacob Sprenger, autores do manual dos caçadores de bruxas, o Malleus Maleficarum, as mulheres eram mais predispostas à bruxaria, já que são cruéis, falsas, instáveis, estupidas, apaixonadas e carnais (insaciáveis). O erudito Jean Bodin (historiador, jurista e teórico político) aponta ainda a cobiça como causa da bruxaria feminina e diz que por cada bruxo do sexo masculino havia cinquenta bruxas.”

Mulheres bruxas na maioria

Margaret King situa que para se provar a veracidade das acusações se utilizavam de variados processos, a começar por um interrogatório. Muitas acusadas confessavam por acreditar (devido ao seu estado físico, autossugestão ou persuasão) que estavam de fato possuídas pelo demônio. Outras não confessavam e eram torturadas. Caso a tortura não conduzisse à confissão a sua “teimosia” tornava evidente a sua “culpa”.

King avalia que entre 1480 e 1700 foram mortas mais mulheres por bruxaria (normalmente, queimadas vivas) do que por qualquer outro crime. Em toda Europa teriam sido levadas a julgamento cerca de 100.000 mulheres, das quais poucas escaparam.

Conforme o imaginário da época os bruxos faziam pactos com o Diabo, renunciando ao cristianismo e se alistando no serviço de Satã. Eles selavam o acordo copulando com o Diabo. Reuniam-se em sabás regulares, os quais envolviam canibalismo, orgias sexuais e paródias blasfemas dos cultos cristãos. Os bruxos possuiriam “familiares” animais, desfrutavam do poder de voar e às vezes da capacidade de mudar de forma.

O papel do sexo na bruxaria

O historiador Jeffrey Richards aponta que essa conspiração satânica foi criação de intelectuais, teólogos e juristas católicos que misturaram antigas crenças populares, magia erudita e bruxaria rural, enfatizando o papel do sexo e postularam a ideia de destruição da cristandade.

“Podemos aceitar a existência de bruxas, mas como mulheres isoladas, não em seitas e não adoradoras do Diabo. As acusações de bruxaria geralmente eram levantadas por vizinhos indispostos contra mulheres específicas: as velhas, as solitárias, as impopulares, as neuróticas, as insanas, as mal-humoradas, as promíscuas, as praticantes de medicina popular ou parteiras, mulheres que, por motivos variados, haviam se tornado alvo do ódio local. Algumas mulheres velhas podem ter chagado a acreditar que eram capazes de voar ou que tinham poderes mágicos, mas a maioria delas era composta por desajustadas ou forasteiras.”

FAQ sobre a verdadeira caça às buxas

Quem foram as principais vítimas da Inquisição?
Mulheres, especialmente idosas, parteiras, curandeiras e socialmente marginalizadas.

Qual era a visão da Igreja sobre as mulheres acusadas de bruxaria?
Acreditava-se que eram mais suscetíveis ao mal, por serem consideradas frágeis, carnais e falsas.

Quantas mulheres foram acusadas de bruxaria na Europa?
Cerca de 100.000 foram levadas a julgamento entre 1480 e 1700.

Que tipo de acusações eram feitas contra as bruxas?
Fazer pactos com o Diabo, voar, mudar de forma, participar de sabás e cometer atos blasfemos.

Essas bruxas realmente existiam?
Historiadores afirmam que eram, na maioria, vítimas do preconceito e da intolerância social.

Carlos Mota

Professor de História. Doutorando em História do Brasil. Pesquisador no campo da Imprensa, Memória, Política e Cultura. Amante do futebol, chuteiras pretas, cuscuz de arroz e um outro tanto de coisas.

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