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Leão XIV e o Peru: um papa com alma latino-americana
A eleição de Robert Francis Prevost como Papa Leão XIV foi celebrada não apenas nos Estados Unidos, seu país natal, mas também com entusiasmo e orgulho no Peru, onde ele viveu e atuou por quase três décadas. Essa profunda ligação com a América Latina faz de Leão XIV não apenas o primeiro papa norte-americano, mas também um papa com alma latino-americana.
Neste artigo, exploramos o significado espiritual, pastoral e simbólico dessa conexão única entre o novo pontífice e o povo peruano.
Um missionário entre os pobres do norte do Peru
Em 1985, aos 30 anos, Prevost iniciou sua missão no norte do Peru, atuando em comunidades carentes da região de Chiclayo. Foi pároco, formador de seminaristas, professor de Direito Canônico e vigário judicial, sempre próximo das populações indígenas e camponesas. Viveu a realidade das periferias, marcada por pobreza estrutural, desigualdade e abandono do Estado, mas também por uma fé popular viva e vibrante.
Essa experiência foi decisiva para moldar seu perfil pastoral: um bispo que escuta, que caminha com o povo e que se deixa transformar pela realidade à sua volta.
Prior provincial e formador de líderes locais
Em 1998, foi eleito Prior Provincial dos Agostinianos no Peru, liderando ações missionárias em contextos desafiadores. Sua gestão priorizou a formação de líderes locais e a valorização da cultura e da religiosidade popular peruana, respeitando as tradições e os tempos das comunidades.
Essa atuação consolidou sua reputação como um missionário comprometido, alguém que não apenas evangelizava, mas era evangelizado pelo povo. Foi essa abertura que marcou sua vida religiosa e que agora marca seu papado.
Bispo, cidadão peruano e pastor de todos
Em 3 de novembro de 2014, foi nomeado Administrador Apostólico da Diocese de Chiclayo, e em 12 de dezembro do mesmo ano, ordenado bispo. Tornou-se oficialmente bispo da diocese em 26 de setembro de 2015 e, nesse mesmo ano, adquiriu a cidadania peruana. Não por exigência institucional, mas por vínculo afetivo.
Essa naturalização é emblemática: Leão XIV não apenas serviu ao povo peruano, mas se tornou parte dele. Não foi um estrangeiro em missão, mas um irmão entre irmãos. Sua cidadania peruana é um gesto de comunhão e reconhecimento da reciprocidade entre missionário e missão.
Uma ponte entre o Norte e o Sul global
Leão XIV é, ao mesmo tempo, norte-americano e latino-americano. Essa identidade dupla o torna um símbolo potente de reconciliação entre continentes que, muitas vezes, são vistos como polos opostos na Igreja: o Norte racional, institucional, e o Sul emocional, popular, espiritual.
Sua trajetória mostra que esses mundos não precisam competir: podem dialogar. Ele traz para Roma a sabedoria dos andes, o calor humano dos povos indígenas, a espiritualidade das periferias e a lucidez pastoral de quem viveu a fé longe do centro do poder.
Uma espiritualidade marcada pela justiça social
A espiritualidade agostiniana que moldou Leão XIV não é apenas contemplativa, mas profundamente engajada com a realidade. Inspirado por Santo Agostinho, valoriza a razão aliada à fé, a interioridade como caminho para Deus e o compromisso com os mais pobres como expressão viva do Evangelho.
No Peru, essa espiritualidade se traduziu em ações concretas de formação, inclusão e valorização das culturas locais. Agora, no papado, se traduz em uma liderança marcada pela escuta, pelo serviço e pela busca sincera da unidade.
Como o povo peruano reagiu à sua eleição
A recepção no Peru foi marcada por emoção e gratidão. Fiéis, religiosos e lideranças sociais celebraram a eleição de “um dos nossos”. Em Chiclayo, sua antiga diocese, missas foram celebradas, sinos repicaram e fiéis se reuniram em vigílias de oração e canto.
O reconhecimento vai além da honra: muitos veem em Leão XIV um papa que compreende os pobres porque caminhou com eles. Que conhece a América Latina não por leitura de documentos, mas por vivência cotidiana. Essa legitimidade espiritual é rara — e preciosa.
O que esperar de um papa com alma latino-americana
Espera-se que Leão XIV aprofunde a opção preferencial pelos pobres, mantenha a ênfase na sinodalidade, fortaleça o papel das igrejas locais, e incentive uma Igreja encarnada na cultura dos povos.
Se seguir sua própria trajetória, é provável que ele continue sendo um papa da escuta, da simplicidade e da proximidade — um líder espiritual que inspira não pelo poder, mas pela coerência e testemunho.
Seu lema episcopal, “In Illo uno unum” (“Em um só, nós somos um”), de Santo Agostinho, resume seu espírito de comunhão. Uma comunhão que ele aprendeu nas aldeias peruanas e agora compartilha com o mundo.
FAQ sobre Leão XIV e o Peru
Por que o Peru é tão importante na história de Leão XIV?
Foi no Peru que ele viveu sua missão, foi pároco, formador, bispo e cidadão. Lá ele construiu sua identidade pastoral e espiritual.
Leão XIV tem cidadania peruana?
Sim. Ele tornou-se cidadão peruano em 2015, como gesto de reconhecimento ao povo que o acolheu e o formou.
O que muda com um papa com alma latino-americana?
Ganha força a voz das periferias, dos povos originários e da teologia encarnada na realidade dos pobres.
Ele é visto como um papa latino na América Latina?
Sim. No Peru e em outras regiões, sua eleição foi celebrada como sinal de esperança e representatividade autêntica.
Redação Sideral
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