A teologia do domínio: como o fundamentalismo converte fé em ‘guerra cultural’

Entenda como a Teologia do Domínio e o cristofascismo operam no cenário político, criando uma 'guerra cultural' com pautas ultraconservadoras.
A teologia do domínio: como o fundamentalismo converte fé em 'guerra cultural'
Foto: Canva

Nos últimos anos, uma ideologia radical tem se infiltrado no coração da política mundial. Ela não é apenas uma leitura literal das escrituras, mas uma arma estratégica, moldada para legitimar um projeto de poder que vai além da fé religiosa. A Teologia do Domínio, ou Dominionismo, é um movimento que busca converter o cristianismo fundamentalista em uma força ativa no campo político, particularmente nas esferas da direita extrema.

O que parecia uma luta por valores tradicionais se transforma em uma verdadeira “guerra espiritual” que polariza a sociedade e reforça uma agenda ultraconservadora. Mas como a fé foi transformada em um instrumento para a dominação? E qual o papel do cristofascismo nesse processo? Este artigo explora os mecanismos de operação dessa teologia que não apenas invoca uma batalha divina, mas que também manipula a moralidade e a política de forma perigosa.

Doutrinas de base: a teologia do domínio e a guerra espiritual

A Teologia do Domínio não é uma corrente marginal; ela ocupa um espaço estratégico nas dinâmicas políticas atuais, especialmente nos Estados Unidos e no Brasil. Seu conceito central é simples, mas perturbador: os cristãos devem exercer um controle ativo sobre todas as esferas da sociedade, incluindo o governo, a educação e a cultura. Isso se baseia na crença de que o cristianismo deve ser a principal força orientadora na vida pública. Para os seguidores dessa ideologia, a sociedade só será plenamente restaurada quando os valores cristãos dominarem a vida política e social, sendo esse o objetivo de uma verdadeira “guerra espiritual”.

Esse movimento, que se reflete em muitos aspectos do cristianismo fundamentalista, usa a Bíblia como um manual de instruções para a submissão de todas as esferas da vida humana à vontade divina. A ideia central é que a luta não é apenas contra inimigos físicos, mas uma batalha cósmica contra as forças do mal. E o mal, nesse contexto, é muitas vezes personificado pela esquerda política, pelos progressistas e, mais especificamente, pelas minorias que buscam reconhecimento de seus direitos.

O inimigo forjado: polarização e maniqueísmo

O cristofascismo opera por meio de uma polarização maniqueísta: existe o “bem”, que é representado pelos valores conservadores e pela luta por uma sociedade que preze pela “moral cristã”, e existe o “mal”, encarnado pelas forças progressistas, pela esquerda, pelos movimentos sociais e pelas minorias. Esta divisão simplista serve como uma justificativa para a radicalização do discurso político e da prática eleitoral.

De acordo com a Teologia do Domínio, qualquer pessoa que não esteja alinhada com seus valores é, de alguma forma, inimiga do projeto divino. Assim, a esquerda, os movimentos feministas, os ativistas LGBTQIA+ e até os ecologistas se tornam “inimigos” da fé, culpados por promoverem o que é considerado uma decadência moral e espiritual. Essa narrativa não apenas cria um “inimigo comum”, mas também legitima ações políticas agressivas contra essas populações, que passam a ser demonizadas como parte de um plano maior de destruição da civilização cristã.

A Teologia do Domínio e o cristofascismo cultivam esse antagonismo, pintando um cenário apocalíptico em que o avanço da “esquerda secular” é sinônimo do colapso moral e espiritual da sociedade. Esse maniqueísmo serve como uma ferramenta poderosa para criar uma atmosfera de medo, incentivando a adesão de massas ao movimento em busca de proteção contra o “mal” iminente.

A pauta moral: a agenda ultraconservadora como ferramenta de mobilização

Além de ser uma ideologia de poder, a Teologia do Domínio também é uma força política que utiliza questões morais como principal mecanismo de mobilização. A agenda ultraconservadora, que é central para o movimento cristofascista, inclui questões como o antiaborto, o anti-gênero e a defesa da “família tradicional”. Essas pautas não são apenas temas éticos ou sociais, mas ferramentas estratégicas para mobilizar o eleitorado e consolidar uma base de apoio ideológico.

O fundamentalismo religioso, ao tomar a causa moral como seu centro, converte essas questões em um campo de batalha onde as identidades políticas são formadas e radicalizadas. O “antiaborto”, por exemplo, é mais do que uma discussão sobre direitos reprodutivos; é uma questão que simboliza a luta contra o que é considerado um ataque à moral cristã. Similarmente, as questões de gênero são vistas como um ataque direto à “ordem natural” que a Teologia do Domínio e seus seguidores defendem. Essa simplificação da política e da moral em termos de batalha espiritual permite que o movimento crie divisões profundas na sociedade, tornando mais fácil consolidar o apoio a um projeto político autoritário.

Essas questões morais são ainda mais exacerbadas por líderes políticos que se associam a esses movimentos, utilizando-as como pilares de sua campanha eleitoral. No Brasil, por exemplo, figuras como o ex-presidente Jair Bolsonaro aproveitaram-se dessa retórica para angariar votos e consolidar sua base. Nos Estados Unidos, a “Religious Right” tem sido uma força central no Partido Republicano, moldando políticas públicas e decisões judiciais que refletem esses valores ultraconservadores.

Fé transformada em guerra

A Teologia do Domínio e o cristofascismo nos forçam a refletir sobre os perigos da instrumentalização da fé para fins políticos. O cristianismo, que em sua essência preza pela compaixão e pela caridade, tem sido distorcido para justificar uma visão de mundo polarizada, maniqueísta e autoritária. Em vez de ser uma força de união e redenção, a fé se tornou uma arma, usada para dividir, controlar e subjugar aqueles que não se alinham a uma agenda ultraconservadora.

A “guerra espiritual” que esse movimento prega não é apenas uma batalha religiosa; ela é uma batalha pelo poder, pelo controle das esferas públicas e privadas da vida humana. O cristianismo, como qualquer ideologia, pode ser moldado e manipulado para servir a diferentes interesses. E, ao transformar a fé em uma plataforma política, corre-se o risco de perder a verdadeira essência do evangelho. Para o futuro, a reflexão crítica e a resistência a essa manipulação são mais necessárias do que nunca.

FAQ sobre teologia do domínio e cristofascismo

O que é a Teologia do Domínio?
A Teologia do Domínio é uma corrente do cristianismo que defende o controle cristão sobre todas as esferas da sociedade. Isso inclui o governo, a educação e a cultura. A ideia central é que os cristãos devem dominar o mundo, aplicando princípios religiosos nas decisões políticas e sociais.

Como a Teologia do Domínio se relaciona com o cristofascismo?
A Teologia do Domínio é uma das bases do cristofascismo, que mistura cristianismo radical com políticas autoritárias. O cristofascismo utiliza a religião como uma ferramenta para justificar políticas conservadoras e opressivas, marginalizando adversários e minorias.

Quais são os principais elementos da agenda política do cristofascismo?
A agenda do cristofascismo inclui a defesa da “família tradicional”, a oposição ao aborto e à igualdade de gênero. Esses temas são usados para mobilizar eleitores conservadores e criar uma narrativa de “guerra cultural”, onde as forças progressistas são vistas como uma ameaça à moral cristã.

Como o cristofascismo manipula a moralidade para fins políticos?
O cristofascismo usa questões morais, como o antiaborto e a defesa da família tradicional, para polarizar a sociedade e criar um inimigo comum. Ele simplifica o debate político, transformando as questões sociais em uma batalha entre o bem (valores cristãos) e o mal (valores progressistas).

Quais os riscos do cristofascismo para a sociedade atual?
O cristofascismo pode intensificar a polarização social, ameaçar direitos civis e restringir liberdades individuais. Ele promove uma visão de mundo divisiva, onde aqueles que não compartilham dos mesmos valores são considerados inimigos. Isso enfraquece a democracia e pode justificar políticas autoritárias e repressivas.

Rogério Victorino

Jornalista especializado em entretenimento. Adora filmes, séries, decora diálogos, faz imitações e curte trilhas sonoras. Se arriscou pelo turismo, estilo de vida e gastronomia.

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