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A importância da brincadeira no desenvolvimento infantil
Nosso primeiro encontro online aborda um tema fundamental: a infância moderna e seus desafios.
As crianças de hoje estão expostas a um volume imenso de informações. Até pouco tempo, elas tinham contato limitado com dados e raramente entendiam conceitos complexos, como o funcionamento do universo, ecossistemas ou política. Com o avanço da tecnologia e a popularização dos meios de comunicação, isso mudou. Hoje, crianças compreendem a ficção científica, ambientalismo e até noções básicas de política com facilidade.
A transformação da infância ao longo do tempo
No passado, as crianças tinham como principal ocupação brincar. Essa atividade permitia que experimentassem o mundo, entendessem a dinâmica familiar e explorassem o imaginário. Na brincadeira, elas vivenciavam aspectos da vida adulta e iniciavam o processo de aprendizagem. Hoje, no entanto, o aprendizado começa desde o nascimento, muitas vezes antes mesmo disso.
Reflita sobre as brincadeiras da sua infância e compare com as de seus filhos. Apesar das mudanças naturais ao longo do tempo, certas atividades não deveriam ser tão diferentes, pois são essenciais para o desenvolvimento psíquico, físico e cognitivo. Brincar favorece habilidades sociais e corporais, que não podem ser substituídas por estímulos artificiais.
O excesso de estímulos na infância
Vivemos em uma era onde profissionais recomendam música clássica para bebês, estímulos visuais constantes e conversas frequentes para desenvolverem a fala. Embora essas práticas tenham benefícios, o excesso de informações causa impactos negativos. Crianças tornam-se ansiosas, agitadas e, muitas vezes, não sabem como brincar. Pais também sofrem com essa pressão, sentindo-se desautorizados a confiar em seus próprios instintos.
Casos clínicos: o impacto na infância moderna
No consultório, recebo crianças de 2 ou 3 anos que, após um desenvolvimento inicial normal, apresentam dificuldades no segundo ano de vida. Um exemplo recente foi uma criança que domina o uso de tablet, escolhe músicas e vídeos sozinha, mas apresenta atrasos motores e na fala. Essa mesma criança, matriculada em uma escola bilíngue, se isola e prefere realizar atividades sozinha.
Outros casos incluem diagnósticos como hiperatividade, déficit de atenção e autismo. Crianças com excesso de estímulos às vezes são agitadas, mas também podem passar horas inertes diante de telas. Algumas focam tanto em uma atividade que ignoram o restante. Essas situações mostram o impacto de um ambiente sobrecarregado.
O que realmente importa para o futuro da criança?
Pais frequentemente projetam um futuro de sucesso para seus filhos, focando em habilidades como fluência em idiomas ou domínio de tecnologias. No entanto, o básico — o relacionamento humano — é frequentemente negligenciado. Deixar a criança ser criança, permitindo que ela brinque, é essencial para seu desenvolvimento pleno.
A brincadeira é a melhor forma de construir habilidades necessárias para o futuro. Na interação com outras crianças, ela aprende naturalmente o que os pais tanto almejam: habilidades cognitivas, sociais e até motoras.
A escola e o papel dos pais no equilíbrio
Uma boa escola respeita o espaço da brincadeira e oferece estímulos na medida certa. Pais também podem ajudar, confiando no processo natural de aprendizado. Não é preciso sobrecarregar as crianças com atividades estruturadas. Aquelas que brincam na escola, na terapia, em casa ou com amigos desenvolvem-se de maneira saudável.
A brincadeira como ferramenta essencial
Costumo dizer aos pais que, se uma criança diz que “foi à fono brincar”, o trabalho está no caminho certo. Esse deve ser o registro que elas guardam: a memória de que brincaram, pois a brincadeira é o trabalho da criança. Enquanto os adultos pensam em produtividade, as crianças precisam do espaço lúdico para se desenvolver.
Rita Paula Cardoso
Fonoaudióloga clínica da infância, especializada no desenvolvimento da linguagem. No blog Fala Expressa aborda temas relacionados ao desenvolvimento da fala, linguagem, inclusão e bilinguismo.
Especialidades: Fonoaudiologia
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