Diagnósticos prematuros: a ética em primeiro lugar no tratamento fonoaudiológico

Entenda a ética por trás dos diagnósticos infantis precoces. Como estão a ansiedade dos pais e a centralidade da criança no tratamento.
Diagnósticos prematuros: a ética em primeiro lugar no tratamento fonoaudiológico
Foto: Canva

Em primeiro lugar, precisamos reconhecer que, muitas vezes, um diagnóstico apressado tenta aliviar a ansiedade dos pais ao receberem notícias preocupantes sobre a saúde de seus filhos. No entanto, o centro de qualquer tratamento, especialmente o fonoaudiológico, deve sempre ser a criança.

Vivemos em um tempo marcado pela velocidade. Tudo parece acontecer mais rápido. Pais, profissionais e educadores percebem essa aceleração diariamente. Em uma cultura dominada por múltiplas telas, redes sociais e a urgência do “para ontem”, não há surpresa em ver esse comportamento refletido no cuidado com o desenvolvimento infantil.

Pandemia, ansiedade e saúde mental

A pandemia de Covid-19 agravou esse cenário, ampliando a ansiedade de forma significativa. Essa inquietação constante faz parte da vida urbana, onde desejamos mais horas em nossos dias. Na minha clínica, vejo esse sentimento estampado no rosto de muitos pais. E sim, essa ansiedade é compreensível. Imagine receber um diagnóstico de TEA (Transtorno do Espectro Autista) durante uma consulta ou reunião escolar. O que passaria pela cabeça de qualquer pai ou mãe diante dessa informação?

Os riscos do diagnóstico precoce

O cenário se torna ainda mais sensível quando o diagnóstico acontece de forma prematura. Isso pode surgir pela urgência de uma resposta ou até mesmo pela falta de experiência de alguns profissionais. Às vezes, é uma combinação dos dois fatores. Como disse antes, não estamos lidando com uma ciência exata, e a ansiedade tende a agravar o processo.

Um exemplo claro: um pediatra identifica um atraso na fala e indica acompanhamento fonoaudiológico ou psicológico. A angústia dos pais cresce com a espera por respostas. Alguns buscam outras opiniões, o que é compreensível. Muitos sentem que precisam de um diagnóstico para seguir em frente, enquanto outros acreditam em tratamentos ou soluções milagrosas.

Na minha prática clínica, noto que a criança “brinca” o tempo todo — o que gera desconforto em alguns pais que esperam uma abordagem mais estruturada. Ainda assim, o brincar é essencial para entender como a criança se comunica, interage e se desenvolve.

A importância da ética profissional

É justamente aqui que a ética profissional se torna fundamental. Os pais, com acesso amplo à informação, costumam pesquisar tratamentos que parecem mais eficazes. Porém, essa busca precisa priorizar o bem-estar da criança, e não o alívio da ansiedade adulta. Diagnósticos precoces, seguidos de intervenções rápidas, nem sempre geram os melhores resultados.

Ao longo da minha trajetória, atendi crianças diagnosticadas com autismo que, com o tratamento certo e no tempo adequado, evoluíram muito. Hoje falam, leem, cantam e convivem socialmente. Isso não se deve a mágica, mas ao trabalho personalizado e à dedicação contínua.

Não sigo a lógica de marketing. Já deixei de atender pacientes por respeitar a atuação de colegas educadores e profissionais da saúde. Nunca entrei — e não entrarei — em disputas por pacientes. Essa é a minha ética.

FAQ sobre diagnósticos prematuros

Por que um diagnóstico apressado pode ser prejudicial?

Porque ele pode levar a tratamentos inadequados, rótulos desnecessários e aumentar a angústia dos pais, desviando o foco do real bem-estar da criança.

Como lidar com a ansiedade após um diagnóstico?

Busque apoio profissional, participe de grupos de acolhimento e confie no processo de avaliação contínua, sempre priorizando o tempo e as necessidades da criança.

Qual o papel da brincadeira no processo diagnóstico?

A brincadeira revela aspectos fundamentais do desenvolvimento infantil. Ela ajuda a entender melhor as habilidades sociais, emocionais e de linguagem da criança.

O que é essencial buscar em um bom profissional?

É essencial que o profissional tenha escuta ativa, dedique tempo para observar a criança em diferentes contextos e mantenha um diálogo claro com a família.

Rita Paula Cardoso

Fonoaudióloga clínica da infância, especializada no desenvolvimento da linguagem. No blog Fala Expressa aborda temas relacionados ao desenvolvimento da fala, linguagem, inclusão e bilinguismo.

Especialidades: Fonoaudiologia

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