Artigos
TEA, TDAH ou transtorno de linguagem? Veja os sinais que ajudam a diferenciar
Quando o olhar fonoaudiológico ajuda a esclarecer diagnósticos muitas vezes confundidos
Na clínica infantil, é comum que pais busquem ajuda por conta de atrasos na fala ou dificuldades de linguagem. Mas nem sempre o que parece ser “só” uma questão de linguagem se confirma na avaliação. Em muitos casos, os sintomas confundem profissionais e famílias, e o diagnóstico caminha entre três possibilidades: transtorno de linguagem, TDAH ou TEA.
Apesar de diferentes, esses transtornos compartilham alguns sinais, o que leva a confusões frequentes. Entender onde cada um começa e termina é um dos desafios do diagnóstico. E é aí que o olhar fonoaudiológico faz toda a diferença.
TEA, TDAH e transtorno de linguagem: o que cada um representa?
- Transtorno do Espectro Autista (TEA): crianças com TEA costumam apresentar dificuldades na interação social, no contato visual, no compartilhamento de atenção e na comunicação. O atraso na linguagem pode estar presente, mas costuma vir acompanhado de comportamentos repetitivos e interesses restritos. A forma como se relacionam com o outro geralmente é bastante singular.
- Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): é marcado por impulsividade, agitação e desatenção. A criança pode interromper conversas, ter dificuldade para esperar sua vez e parecer “desligada” em tarefas simples. Embora apresente problemas de comunicação em contextos que exigem foco e escuta, sua intenção comunicativa e social costuma estar preservada.
- Transtorno de linguagem (TDL): anteriormente chamado de distúrbio específico de linguagem, o TDL envolve dificuldade na compreensão e/ou expressão da linguagem falada, escrita ou gestual. Pode afetar o vocabulário, a estrutura das frases, a capacidade de se fazer entender e de compreender o que o outro diz. São crianças que querem se comunicar, mas enfrentam barreiras para isso.
Como o TDL se diferencia do TEA e do TDAH?
Apesar das semelhanças iniciais, o transtorno de linguagem tem marcas próprias que ajudam a diferenciá-lo:
- Desejo de interação: crianças com TDL geralmente se mostram interessadas em interagir, mesmo que se frustrem por não conseguir se expressar bem.
- Ausência de comportamentos repetitivos: ao contrário do TEA, não há padrões rígidos de comportamento ou interesses restritos.
- Falta de hiperatividade como sintoma central: a agitação, se aparece, costuma estar mais ligada à frustração comunicativa do que à impulsividade típica do TDAH.
- Dificuldades específicas de linguagem: o TDL impacta diretamente a estrutura da linguagem: vocabulário, morfossintaxe, semântica e compreensão.
Na prática clínica, o fonoaudiólogo observa se a dificuldade da criança está em organizar ideias, compreender ordens simples, manter uma conversa ou usar palavras adequadas ao contexto. Esses detalhes, muitas vezes sutis, são fundamentais para um diagnóstico diferencial preciso.
Por que um diagnóstico preciso é tão importante?
Confundir TDL com TEA ou TDAH pode gerar prejuízos significativos. Cada diagnóstico exige uma abordagem diferente. Estratégias voltadas ao autismo, por exemplo, podem não surtir efeito quando o problema é exclusivamente linguístico. Já uma intervenção voltada ao TDAH pode ignorar completamente as dificuldades de compreensão da linguagem.
Além disso, o erro diagnóstico pode levar a medicações desnecessárias, rótulos equivocados e frustrações para a criança e sua família. O diagnóstico correto não apenas orienta o tratamento, mas também promove um desenvolvimento mais saudável, respeitando a singularidade de cada criança.
Como a fonoaudiologia pode contribuir?
A fonoaudiologia tem papel central na diferenciação entre esses transtornos. A avaliação clínica fonoaudiológica permite investigar aspectos como:
- Compreensão verbal e não verbal;
- Organização da fala e do pensamento;
- Capacidade de manter trocas comunicativas;
- Presença de ecolalias ou uso funcional da linguagem;
- Capacidade de narrar, descrever e pedir ajuda.
Além disso, o trabalho interdisciplinar com neurologistas, psicólogos, psiquiatras infantis e foniatras é essencial para compor um diagnóstico completo. A avaliação auditiva também é imprescindível, já que alterações na audição podem impactar diretamente o desenvolvimento da linguagem.
Com um olhar atento à linguagem, o fonoaudiólogo pode identificar nuances que escapam a outros profissionais. E isso faz toda a diferença.
FAQ sobre diagnósticos confundidos de TEA, TDAH e Transtorno de Linguagem
Como saber se meu filho tem TDL e não TEA?
Crianças com TDL geralmente querem interagir, mas têm dificuldades para se expressar ou compreender. Já no TEA, a dificuldade de interação social aparece desde muito cedo.
TDAH pode causar atraso na fala?
Não diretamente. O que pode ocorrer é que a desatenção e impulsividade do TDAH interfiram na comunicação, mas isso é diferente de um transtorno de linguagem.
Meu filho fala pouco, mas é muito agitado. Pode ser TDL?
Pode ser, sim. A agitação pode estar ligada à frustração por não conseguir se comunicar. Uma avaliação fonoaudiológica é essencial para entender a origem.
Transtornos de linguagem desaparecem com o tempo?
Nem sempre. Muitos casos precisam de intervenção fonoaudiológica para que a criança alcance seu potencial de linguagem e aprendizagem.
Qual profissional devo procurar primeiro?
Se a queixa principal é sobre fala e linguagem, o fonoaudiólogo é o ponto de partida ideal. Ele poderá, inclusive, orientar se há necessidade de outros especialistas.
Rita Paula Cardoso
Fonoaudióloga clínica da infância, especializada no desenvolvimento da linguagem. No blog Fala Expressa aborda temas relacionados ao desenvolvimento da fala, linguagem, inclusão e bilinguismo.
Especialidades: Fonoaudiologia
VER PERFILISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE
Antes de continuar, esteja ciente de que o conteúdo discutido entre você e o profissional é estritamente confidencial. A Era Sideral não assume qualquer responsabilidade pela confidencialidade, segurança ou proteção do conteúdo discutido entre as partes. Ao clicar em CONTINUAR, você reconhece que tal interação é feita por sua própria conta e risco.
Aviso de conteúdo
É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O site não se responsabiliza pelas opiniões dos autores deste coletivo.
Veja Também
Crianças sobrecarregadas: o impacto das demandas excessivas na infância
Reflexões sobre como o excesso de estímulos pode prejudicar o desenvolvimento das crianças e a importância de preservar sua infância.
Hipersensibilidade sensorial ou transtorno do espectro autista: como a escuta clínica pode mudar o diagnóstico
Compreenda a diferença entre hipersensibilidade sensorial e autismo e como a escuta clínica pode evitar diagnósticos apressados.
Como usar o brincar como proposta terapêutica na fonoaudiologia infantil
Brincar é uma ferramenta poderosa na fonoaudiologia. Veja como a terapia lúdica pode impulsionar a linguagem e o desenvolvimento da...
O papel essencial do pai na aquisição de linguagem da criança: como a presença paterna impacta o desenvolvimento
A participação do pai é essencial para o desenvolvimento da linguagem na infância. Entenda como a presença paterna contribui nesse...


