Quando os pais adiam a fonoaudiologia: os impactos no desenvolvimento infantil

Quando os pais adiam a fonoaudiologia, o desenvolvimento infantil pode ser prejudicado. Saiba como lidar com essa resistência.
Quando os pais adiam a fonoaudiologia: os impactos no desenvolvimento infantil
Foto: Canva

Agendas lotadas, prioridades invertidas e a urgência silenciosa de cuidar da linguagem

Não é raro encontrar, na clínica infantil, famílias que demonstram preocupação com o desenvolvimento dos filhos, mas que, na prática, acabam adiando o início do tratamento fonoaudiológico. Essa resistência de alguns pais nem sempre é consciente — e, muitas vezes, vem disfarçada de boas intenções.

Entre compromissos escolares, esportes, aulas de música e cursos de idiomas, a linguagem vai ficando para depois. O problema é que, ao deixar a fonoaudiologia em segundo plano, o que parece ser uma escolha inofensiva pode atrasar aspectos fundamentais do desenvolvimento infantil.

Quando a resistência não é percebida

Agendas lotadas dão a sensação de rotina produtiva. Mas, quando se trata de uma criança com dificuldades de comunicação, elas também podem esconder uma resistência velada ao cuidado. Essa resistência costuma vir de quatro fontes principais:

  • Subestimação do problema: muitos pais acreditam que a fala “deslancha” com o tempo e, por isso, não veem urgência em buscar ajuda.
  • Prioridades invertidas: atividades como inglês, natação ou reforço escolar acabam sendo vistas como mais importantes do que a comunicação básica.
  • Medo do diagnóstico: existe um receio legítimo de confirmar uma dificuldade mais séria, o que leva algumas famílias a evitar a avaliação.
  • Falta de compreensão sobre a fonoaudiologia: ainda há quem acredite que o trabalho do fonoaudiólogo se limita apenas à fala, desconhecendo sua atuação mais ampla sobre linguagem, aprendizagem e interação social.

O que acontece quando se adia o essencial?

É comum ouvir relatos como: “Não conseguimos encaixar a fono na agenda porque ele já faz futebol, música e apoio escolar”. Essas escolhas não são, por si só, equivocadas. Mas é preciso lembrar que a linguagem é a base que sustenta todas as outras áreas. É como querer decorar uma casa que ainda não tem paredes firmes: o risco de tudo desabar é grande.

Crianças sobrecarregadas tendem a chegar cansadas ao consultório, com menos atenção e menos disponibilidade emocional para construir vínculos terapêuticos. Sem vínculo, o processo se torna mais difícil — e mais lento.

Reflexões da prática clínica

Ao longo dos anos, vi muitos casos em que a resistência inicial cedeu diante do entendimento. Famílias que adiavam o início do tratamento por priorizar outras atividades voltavam ao consultório meses depois, já com a criança apresentando dificuldades mais evidentes — muitas das quais poderiam ter sido evitadas com uma intervenção precoce.

Em um desses casos, os pais relutavam em abrir mão da rotina intensa da filha. Quando, finalmente, decidiram iniciar o tratamento, ela já demonstrava prejuízos importantes na interação social e na aprendizagem. A mudança de olhar veio tarde, mas ainda foi possível reconstruir o caminho da linguagem. Outros nem sempre têm a mesma chance.

Como o profissional pode ajudar a romper essa barreira?

A resistência dos pais não se enfrenta com cobranças, mas com escuta, informação e parceria. Algumas estratégias clínicas podem facilitar esse processo:

  • Diálogo empático: apresentar os riscos do atraso de forma clara, sem julgamento, e com abertura para as angústias da família.
  • Exemplos práticos: mostrar, por meio de histórias ou analogias, o impacto positivo da intervenção precoce.
  • Flexibilidade realista: adaptar horários ou formatos de atendimento sempre que possível, para reduzir obstáculos sem comprometer a qualidade do cuidado.

É papel da fonoaudiologia acolher, mas também orientar. Mostrar que o tratamento da linguagem não é um “extra” na vida da criança, mas um alicerce. Afinal, sem comunicação, até os melhores planos perdem força. E nenhuma atividade extracurricular pode compensar o silêncio de uma fala que não vem ou de uma escuta que não compreende.

FAQ sobre quando os pais adiam a fonoaudiologia

Meu filho fala pouco, mas tem uma rotina cheia. Isso pode atrapalhar o tratamento?
Sim. Agendas muito cheias podem dificultar a criação de vínculo terapêutico e reduzir a eficácia do tratamento.

A fonoaudiologia é só para quem tem problema de fala?
Não. A fonoaudiologia atua no desenvolvimento da linguagem como um todo: fala, compreensão, leitura, escrita e interação social.

O tratamento pode esperar até a criança crescer mais?
Não é o ideal. Quanto mais precoce a intervenção, maiores as chances de bons resultados e menos impacto na aprendizagem e no convívio social.

É normal sentir medo de um possível diagnóstico?
Sim, mas fugir da avaliação pode atrasar ainda mais o desenvolvimento da criança. Compreender o que ela precisa é o primeiro passo para ajudá-la.

Como encaixar a fonoaudiologia em uma rotina apertada?
Conversar com o profissional sobre ajustes possíveis pode ajudar. O importante é não deixar o cuidado com a linguagem para depois.

Rogério Victorino

Jornalista especializado em entretenimento. Adora filmes, séries, decora diálogos, faz imitações e curte trilhas sonoras. Se arriscou pelo turismo, estilo de vida e gastronomia.

VER PERFIL

Aviso de conteúdo

É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita. O site não se responsabiliza pelas opiniões dos autores deste coletivo.

Deixe um comentário

Veja Também