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Quando os pais adiam a fonoaudiologia: por que isso atrasa o desenvolvimento infantil
Na clínica onde atuo, não é raro encontrar pais muito presentes, porém presos a rotinas que lotam cada minuto do dia dos filhos. Futebol, inglês, robótica, música – tudo cabe na agenda, menos a fonoaudiologia. Seu adiamento parece inofensivo; afinal, dizem, “a fala vem com o tempo”. No entanto, deixar para depois o cuidado com a linguagem pode custar caro ao desenvolvimento infantil.
Resistência que se disfarça de boa intenção
Esse adiamento costuma nascer de fatores sutis:
- Subestimação dos atrasos: acreditar que falar “tarde” é só questão de maturidade.
- Prioridades invertidas: valorizar inglês ou reforço escolar antes de garantir que a criança compreenda e se faça compreender.
- Medo do diagnóstico: recear confirmar algo mais sério e, assim, evitar a avaliação.
- Visão limitada da fonoaudiologia: pensar que o fonoaudiólogo apenas “corrige som”, quando, na verdade, trabalha linguagem, leitura, escrita, voz e alimentação.
Quando a rotina cheia vira obstáculo
Crianças exaustas chegam ao consultório sem energia para criar vínculo; outras nem chegam, pois “não há horário” disponível. Entretanto, sem linguagem sólida nenhuma outra habilidade se sustenta. É como erguer uma casa sem fundação – as paredes até levantam, mas racham logo adiante.
Aprendizados da prática clínica
Com mais de quatro décadas de atendimento, percebo que a resistência começa a ruir quando os pais entendem dois pontos:
- Linguagem não é luxo, é base para aprender, brincar e conviver;
- Intervir cedo evita frustrações acadêmicas e sociais difíceis de reverter.
Lembro de uma menina cujo início de tratamento foi postergado por quase um ano, pois as tardes estavam ocupadas com balé e natação. Quando começamos, ela já evitava falar na escola e precisava de suporte emocional, além do linguístico. Com intervenção precoce, talvez essas barreiras nem tivessem surgido.
Como o profissional pode acolher e orientar
- Diálogo empático: apresentar riscos do adiamento com linguagem simples e sem culpa.
- Exemplos concretos: mostrar casos em que a intervenção precoce alavancou fala e autoestima.
- Flexibilidade realista: propor horários possíveis, sessões on-line ou estratégias em casa quando necessário.
Quando pais percebem que a fonoaudiologia não compete com outras atividades, mas sustenta todas elas, a agenda ganha novo desenho – e a criança, novas possibilidades.
FAQ sobre pais que adiam a fonoaudiologia
Futebol e inglês podem esperar a fonoaudiologia?
Sim. Sem linguagem forte, até o desempenho no esporte ou no idioma fica comprometido.
Meu filho falará sozinho se eu esperar?
Alguns atrasos resolvem-se naturalmente, mas muitos precisam de intervenção para evitar prejuízos futuros.
Fonoaudiologia corrige apenas a pronúncia?
Não. Ela trabalha compreensão, expressão, leitura, escrita, voz, alimentação e interação social.
Como encaixar a fono na agenda cheia?
Reveja prioridades, combine horários flexíveis e distribua melhor as atividades extracurriculares.
É normal sentir medo do diagnóstico?
É. Porém, descobrir cedo possibilita ajudar mais rápido e com melhores resultados.
Rita Paula Cardoso
Fonoaudióloga clínica da infância, especializada no desenvolvimento da linguagem. No blog Fala Expressa aborda temas relacionados ao desenvolvimento da fala, linguagem, inclusão e bilinguismo.
Especialidades: Fonoaudiologia
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