Crianças com dificuldades de fala: como apoiar na socialização e no desenvolvimento emocional

Dificuldades na fala podem afetar a socialização infantil. Descubra como apoiá-las na família e na escola, além da terapia fonoaudiológica.
Crianças com dificuldades de fala: como apoiar na socialização e no desenvolvimento emocional
Foto: Canva

Em primeiro lugar, é importante ressaltar, sempre, que a fala é essencial para a socialização infantil. Pois desde os primeiros anos, ela serve como ponte para a construção de vínculos, a expressão de necessidades e o desenvolvimento emocional. No entanto, quando a criança enfrenta dificuldades na fala, como disfluências ou trocas fonêmicas, esses desafios podem se estender além da simples comunicação. Eles afetam a confiança da criança, suas relações sociais e, em alguns casos, podem até gerar isolamento.

Quando as dificuldades de fala afetam a interação social

Alterações na fala não afetam apenas a forma como a criança se comunica, mas podem influenciar profundamente sua inserção nos ambientes sociais. Por exemplo, na escola, a criança pode evitar falar em público, demonstrar resistência a apresentações e até sofrer com brincadeiras de colegas. Em casa, pode se sentir incompreendida ou frustrada, especialmente se for corrigida de maneira inadequada.

Assim, é importante perceber que, embora os sintomas da fala (como trocas fonêmicas e gagueira) sejam frequentemente tratados como questões técnicas, eles carregam um peso emocional significativo. A forma como os adultos lidam com essas dificuldades, contudo, pode ter um impacto profundo na autoestima e no desenvolvimento emocional da criança.

Os desafios que vão além da fala: a dimensão emocional

Problemas como a gagueira não são simplesmente questões mecânicas de fala. Muitas vezes, as crianças que apresentam dificuldades em se expressar têm uma carga emocional que precisa ser considerada. Falar em frente a outros, especialmente em situações de pressão, pode intensificar esses desafios.

As trocas fonêmicas, por sua vez, podem ser naturais até certo ponto no desenvolvimento infantil, mas quando persistem, podem sinalizar questões mais complexas, como dificuldades cognitivas ou emocionais subjacentes.

Por isso, o fonoaudiólogo deve adotar uma abordagem holística, que considere a criança como um sujeito que vai além do simples “erro” na fala. Por isso, a insegurança, o medo de errar ou a necessidade de aceitação podem estar diretamente relacionados ao que se escuta.

Como apoiar a criança além da terapia fonoaudiológica

O papel da família, da escola e da comunidade é essencial para a construção de um ambiente seguro, onde a criança se sinta à vontade para se expressar. Algumas práticas importantes incluem:

  • Escuta ativa e paciência: Evitar interromper ou completar frases da criança. É fundamental permitir que ela se expresse no seu tempo.
  • Modelo adequado: Pais e cuidadores devem oferecer o modelo correto das palavras, sem forçar a criança a falar mais rápido ou corrigir de maneira rígida.
  • Ambiente seguro: Em casa e na escola, a criança deve se sentir segura para se expressar sem medo de ser julgada.
  • Valorização da comunicação: A criança deve ser incentivada a se comunicar de diversas maneiras, seja com gestos, desenhos ou brincadeiras.
  • Incentivo a interações sociais: Oferecer oportunidades para que a criança socialize de forma gradual, respeitando, assim, seu ritmo.

Quando procurar um fonoaudiólogo?

Atenção: quando as dificuldades de fala persistem ou pioram com o tempo, é hora de buscar avaliação especializada. Fique atento a esses sinais:

  • Trocas fonêmicas: Se persistirem após os 5 anos e dificultarem a comunicação.
  • Disfluência: Se a disfluência se intensificar ou ocorrer com tensão visível durante a fala.
  • Resistência em falar: Se a criança começar a evitar falar em determinadas situações ou com pessoas específicas.
  • Frustração crescente: Se houver aumento na frustração e isolamento social por conta das dificuldades de fala.
  • Histórico familiar: Se houver antecedentes de gagueira persistente na família.

Falar é mais do que se comunicar

Por fim, a fala não se resume a palavras, mas a uma expressão do sujeito em seu lugar no mundo. O desafio de uma criança que tem dificuldades na fala não está apenas na articulação, mas no espaço emocional que ela ocupa no contexto social. O que é importante, portanto, é garantir que a criança se sinta segura para se expressar, sem medo de errar, para que possa se integrar plenamente em seu meio social e emocional.

FAQ sobre crianças com dificuldades de fala e a socialização

O que são trocas fonêmicas e como afetam a criança?
Trocas fonêmicas são alterações nas palavras, como substituir um som por outro. Porém, embora comuns em crianças pequenas, podem afetar a comunicação e a autoestima quando persistem além da idade esperada.

Como a disfluência pode impactar a criança?
A disfluência, ou gagueira, pode afetar a confiança da criança e suas relações sociais. Caso se torne frequente ou for acompanhada de tensão, entretanto, é importante buscar acompanhamento especializado.

Quando uma criança deve ser levada a um fonoaudiólogo?
Se as dificuldades de fala persistirem além dos 5 anos ou se causarem frustração e dificuldades sociais, é hora de buscar ajuda de um fonoaudiólogo.

O que os pais devem fazer para apoiar a criança em casa?
Os pais devem garantir um ambiente acolhedor, escutando ativamente, evitando correções excessivas e incentivando a criança a se expressar livremente.

Qual o papel da escola no apoio à criança com dificuldades de fala?
A escola deve criar um ambiente seguro para a criança se expressar, com o apoio dos professores e colegas. Atividades sociais e educativas que envolvam fala também são importantes.

Rita Paula Cardoso

Fonoaudióloga clínica da infância, especializada no desenvolvimento da linguagem. No blog Fala Expressa aborda temas relacionados ao desenvolvimento da fala, linguagem, inclusão e bilinguismo.

Especialidades: Fonoaudiologia

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