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Clínica infantil x clínica adolescente: diferenças no tratamento fonoaudiológico

Quando adolescentes retornam à fonoaudiologia no meu consultório após tratamento na infância, surgem questões importantes sobre as mudanças que ocorrem no acompanhamento. Afinal, a clínica infantil e a clínica adolescente apresentam abordagens distintas, adaptadas às necessidades de cada fase do desenvolvimento.
Mas, entretanto, quais são as principais diferenças na prática fonoaudiológica entre essas duas etapas da vida? Hoje vamos explorar os aspectos que tornam cada uma única e essencial para o desenvolvimento da comunicação dos jovens a partir das minhas experiências.
Clínica infantil: o foco no desenvolvimento da linguagem
Na clínica infantil, o principal objetivo é o desenvolvimento da linguagem e da fala. Nessa fase, as intervenções são voltadas para a aquisição dos primeiros padrões de comunicação e o desenvolvimento da expressão verbal. Os desafios típicos nessa fase incluem:
- Atrasos no desenvolvimento da fala e linguagem: dificuldades na aquisição de linguagem ou no ritmo esperado para a faixa etária.
- Trocas fonológicas e dificuldades na articulação: padrões que, embora comuns na infância, podem persistir além da idade esperada.
- Questões auditivas e de compreensão: dificuldade em processar e responder adequadamente à fala.
- Desafios sociais e no brincar: a fala como ferramenta para interações sociais.
- Aspectos motores da fala: questões relacionadas à articulação dos sons e movimento da boca.
Além disso, a plasticidade neurológica da infância, associada ao impacto do ambiente familiar e escolar, desempenha um papel importante na intervenção fonoaudiológica durante esta fase.
Clínica adolescente: identidade e refinamento da comunicação
Quando chega a adolescência, a abordagem na fonoaudiologia muda. A linguagem, já adquirida, começa a ser refinada à medida que o adolescente passa a se relacionar com novas exigências sociais. Assim, os desafios mais comuns que tenho observado durante essa fase envolvem:
- Alterações vocais: mudanças no tom e na qualidade da voz, especialmente durante a puberdade.
- Dificuldades na fluência e expressão oral: hesitações e bloqueios ao falar, especialmente em situações de fala pública.
- Autoconsciência e identidade vocal: a voz como um componente da construção da identidade pessoal.
- Adaptação da comunicação a novos contextos: habilidades discursivas para se expressar em ambientes acadêmicos, sociais e profissionais.
- Impacto emocional na comunicação: insegurança quanto à fala, o que pode levar ao evitamento de interações sociais.
Portanto, a intervenção fonoaudiológica na adolescência vai além de melhorar a fala. Ela visa fortalecer a identidade do jovem e ajudá-lo a se expressar com confiança em diferentes contextos sociais.
Da infância à adolescência: a continuidade no desenvolvimento da fala
Embora os desafios na infância possam mudar ao longo do tempo, a transição para a adolescência revela novas formas de dificuldades. Por exemplo, uma criança com atraso na fala pode se tornar um adolescente inseguro ao falar em público. Ou, uma criança que gaguejava, pode enfrentar episódios intensificados de disfluência em situações de estresse.
O trabalho fonoaudiológico, portanto, deve acompanhar esse movimento de forma contínua. Se, na infância, o foco está na aquisição da linguagem, na adolescência o centro está na comunicação como ferramenta de identidade e pertencimento.
Por fim, é importante ressaltar que a fala não é um processo isolado. Ela se transforma à medida que o sujeito cresce. Pois cada fase exige um olhar atento e específico, para que a evolução na comunicação aconteça com confiança e autenticidade.
FAQ sobre as diferenças no tratamento fonoaudiológico entre a clínica infantil e a clínica adolescente
1. Quais são os principais desafios na clínica infantil?
Os desafios incluem atraso no desenvolvimento da linguagem, dificuldades de articulação, problemas auditivos e dificuldades nas interações sociais, entre outros.
2. Como a fonoaudiologia pode ajudar na adolescência?
Na adolescência, a fonoaudiologia trabalha no refinamento da fala, auxiliando nas alterações vocais, na fluência e no desenvolvimento da identidade vocal, além de lidar com questões emocionais relacionadas à comunicação.
3. Quando é necessário procurar um fonoaudiólogo para adolescentes?
É recomendável procurar ajuda quando o adolescente apresentar dificuldades em falar em público, problemas de fluência que impactam sua interação social, ou se houver insegurança constante quanto à sua voz.
4. Existe diferença no tratamento fonoaudiológico entre crianças e adolescentes?
Sim, a abordagem muda. Para crianças, o foco é a aquisição e desenvolvimento da linguagem. Para adolescentes, o tratamento busca aprimorar a comunicação, com ênfase na identidade vocal e adaptação social.
5. A fonoaudiologia pode melhorar a autoestima dos adolescentes?
Sim. A fonoaudiologia contribui para a autoconfiança do adolescente, ajudando-o a se expressar melhor e a lidar com questões emocionais relacionadas à fala e à comunicação.
Rita Paula Cardoso
Fonoaudióloga clínica da infância, especializada no desenvolvimento da linguagem. No blog Fala Expressa aborda temas relacionados ao desenvolvimento da fala, linguagem, inclusão e bilinguismo.
Especialidades: Fonoaudiologia
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