Espiritualidade e saúde mental: por que a reza é eficaz onde o remédio falha

Neurociência e espiritualidade se unem e provam que rituais e fé são chaves contra estresse e ansiedade e o excesso de medicalização.
Espiritualidade e saúde mental: por que a reza é eficaz onde o remédio falha
Foto: Canva

Vivemos na era do burnout, da ansiedade crônica e da busca desesperada por atalhos para a paz de espírito. É irônico: nunca tivemos tanto acesso à informação e, ao mesmo tempo, nunca estivemos tão perdidos dentro da própria cabeça. A indústria farmacêutica agradece. Portanto, a pílula mágica para a felicidade está sempre a um passo, e nós, como bons consumidores, estamos dispostos a pagar o preço, muitas vezes, sem questionar se tratamos o sintoma ou a raiz do problema.

Lembre-se, a maior busca humana deveria ser pelo equilíbrio. Dessa forma, quando a mente começa a pregar peças e a virar um campo minado de estresse e preocupações, buscamos soluções rápidas. Assim, decidimos delegar o nosso bem-estar a um composto químico, ignorando uma farmácia interna que carregamos há milênios. Embora possa parecer papo de “guru new age”, a neurociência e a psicologia positiva provam o contrário. Afinal de contas, a solução para a mente turbulenta está menos no nosso bolso e mais nas nossas mãos, unidas em oração.

A ciência do ritual e da fé

Aqui, a crítica mira a medicalização excessiva de um problema que, muitas vezes, é existencial. Em outras palavras, sentir-se ansioso num mundo que exige produtividade 24/7 não é uma falha química; é uma resposta humana normal. Contudo, quando as coisas fogem ao controle, a espiritualidade oferece ferramentas que os nossos ancestrais já usavam, mas com um toque de validação científica.

O que é um ritual? É uma âncora. Consequentemente, é um padrão que o cérebro reconhece como seguro e previsível no meio do caos. Seja como for, a meditação matinal, a oração antes de dormir ou o banho de ervas — esses atos repetitivos e intencionais acionam o sistema nervoso parassimpático, diminuindo a frequência cardíaca e reduzindo o cortisol (o hormônio do estresse). Adicionalmente, a fé injeta esperança e significado – elementos que, de acordo com a psicologia positiva, são essenciais para a resiliência mental.

A fé como sistema de segurança psicológica

Não falamos de dogmas. Pelo contrário, falamos sobre como o ato de acreditar e de pertencer (a uma tradição, a um propósito) cria uma rede de segurança psicológica robusta. Por conseguinte, a fé constitui o antídoto mais eficaz contra o isolamento e a perda de sentido, dois pilares da depressão contemporânea.

Meditação, oração e o cérebro resiliente

Caso você se identifique com o “gene da contradição”, talvez sinta ceticismo em relação a práticas que parecem simples demais. No entanto, a simplicidade é o seu poder. Tanto a meditação de mindfulness quanto a oração fervorosa promovem uma coisa crucial: coerência cerebral. Isto é, ambas treinam o córtex pré-frontal para não reagir a todo e qualquer pensamento ou “spam mental”. Ou seja, elas dão a você o poder do freio.

Pela neurociência, é mostrado que pessoas que praticam meditação regularmente apresentam uma amígdala (o centro do medo no cérebro) menos reativa e um hipocampo (memória e regulação emocional) mais desenvolvido. Da mesma forma, a oração, em diversas culturas, não é apenas um pedido; ela é uma forma de entrega e aceitação, a qual alivia a carga de controle que a mente ansiosa tenta exercer sobre o futuro. Você delega a preocupação, liberando recursos mentais preciosos.

Em suma, provamos que a busca por realização pessoal (um dos campos do sucesso) passa, obrigatoriamente, por uma gestão emocional eficaz, e as práticas espirituais são a ferramenta mais antiga – e de custo zero – para isso.

Onde o espiritual encontra o psicológico

O maior erro é separar a saúde mental da saúde espiritual. Com efeito, quando o tema é autodesenvolvimento, buscamos a integração do ser, almejando uma vida coesa, íntegra e equilibrada. Aliás, a psicologia positiva (que foca nas forças humanas, e não nas fraquezas) há muito reconhece a gratidão, o perdão e a esperança como motores de bem-estar. Ora, essas são as bases de quase toda a filosofia espiritual.

Portanto, o desafio é parar de ver o psicólogo como o técnico de reparos e o guru/padre/mestre como o terapeuta da alma. Eles se complementam. As práticas espirituais (o ritual, a oração) fornecem o combustível diário para a resiliência, ao passo que a terapia e a ciência fornecem o mapa e a linguagem para entender o que sentimos. Não é uma competição. Pelo contrário, estabelecemos uma aliança poderosa para evitar que a vida vire uma emergência constante.

FAQ sobre espiritualidade e saúde mental

Rituais espirituais podem substituir a terapia psicológica?
Não. Rituais e práticas espirituais (como meditação e oração) são ferramentas poderosíssimas de prevenção e manutenção do bem-estar, pois fortalecem a resiliência emocional. No entanto, em casos de transtornos de ansiedade, depressão profunda ou outras crises, a terapia psicológica (e, se necessário, a psiquiátrica) é fundamental. As práticas espirituais devem ser vistas como aliadas, e não como substitutas do tratamento clínico.

Como o sentimento de “pertencimento” ajuda na saúde mental?
O ser humano é social. Sendo assim, sentir que você pertence a algo maior – seja uma comunidade de fé, seja um grupo de estudo ou até mesmo uma visão de mundo – combate o isolamento, que é um grande fator de risco para a depressão e a ansiedade. O pertencimento confere significado e estrutura de suporte, aliviando a carga de responsabilidade individual sobre as crises da vida.

A neurociência valida a eficácia da oração ou da meditação?
Sim. A neurociência não avalia o conteúdo da oração ou da fé, mas sim o efeito fisiológico da prática. Por exemplo, estudos de ressonância magnética mostram que a meditação e a oração focada aumentam a atividade no córtex pré-frontal (ligado ao foco e à regulação emocional) e reduzem a densidade da amígdala (centro de processamento do medo), o que leva a uma maior calma e resiliência ao estresse.

O que é o “estresse existencial” e como a espiritualidade o resolve?
O estresse existencial é a ansiedade gerada por grandes questões da vida: propósito, sentido da vida, finitude e liberdade. A espiritualidade aborda diretamente essas questões, oferecendo uma estrutura de significado (um mapa de valores e propósito). Desse modo, ao dar um sentido transcendente às dificuldades, a dor é transformada em crescimento, reduzindo a sensação de vazio e desamparo.

Quais práticas espirituais simples posso incorporar no dia a dia para reduzir a ansiedade?
Microrituais devem ser incorporados. A gratidão (anotar três coisas boas do dia), a respiração consciente (três minutos de foco total na respiração ao acordar) e a contemplação (olhar para o céu ou uma planta por 60 segundos) são práticas poderosas. Isso porque essas pequenas pausas redefinem o foco para o momento presente, quebram o ciclo de ruminação sobre o passado ou ansiedade sobre o futuro.

Rogério Victorino

Jornalista especializado em entretenimento. Adora filmes, séries, decora diálogos, faz imitações e curte trilhas sonoras. Se arriscou pelo turismo, estilo de vida e gastronomia.

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