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Como usar o brincar como proposta terapêutica na fonoaudiologia infantil
Brincar na clínica: isso é terapia?
Você já parou para pensar como uma sessão de terapia pode começar com um simples jogo de encaixe e terminar com uma conversa cheia de significados sobre dinossauros, medos ou foguetes? No consultório, muitos pais chegam com expectativas bem específicas. Alguns esperam que o filho “trabalhe” a fala, façam exercícios ou usem espelhos para corrigir sons. Já ouvi até um pai perguntar se a criança aprenderia a falar “corretamente” logo, porque ele queria que ela estivesse pronta para a escola. E então, a criança entra e a sessão começa… com uma brincadeira.
Quando a brincadeira fala
Brincamos de casinha, de massinha, de bolinhas de sabão, até de criar um monstro com peças coloridas. A criança sai da sessão dizendo que se divertiu, que foi “legal” e quer voltar. E, naquele momento, o trabalho terapêutico realmente começa — e, muitas vezes, os adultos não percebem.
Assim, brincar não é tempo perdido, é tempo de construção. Para a criança, brincar é como ela organiza o mundo ao seu redor, conecta-se com o outro e aprende a negociar, a esperar sua vez, a escutar. É também o espaço onde a linguagem nasce, evolui e encontra seu caminho para se expandir.
Quando o brincar vira escuta
No momento da brincadeira, a criança comunica o que ainda não sabe expressar verbalmente. Ela usa a boneca para representar o medo, transforma o carrinho em monstro e até inventa palavras. Sem perceber, ela ensaia sons, cria histórias, organiza ideias.
Na fonoaudiologia, ao menos em meu consultório, o brincar não é apenas uma pausa. Ele se torna uma porta de entrada. Através dos jogos simbólicos, dos jogos de regras e até dos jogos motores, conseguimos acessar as dificuldades reais da criança. E, mais importante, entender os caminhos possíveis para ajudá-la.
Quando a criança diz que só brincou
Quando os pais dizem que o filho adorou a consulta porque “brincou”, eu sorrio. Isso significa que a criança se sentiu segura e que estabelecemos uma relação sólida. Ela pôde ser criança sem a pressão de um desempenho esperado.
Pois esse é o ponto de conexão entre o brincar e a fala. Não se trata de apressar ou de seguir fórmulas. Trata-se de escutar, de estar presente e de criar vínculos reais.
Quando brincar é coisa séria
Sem dúvida, as crianças sabem quando o adulto está realmente presente. Elas percebem quando o brincar é genuíno, quando a escuta é verdadeira. E, a partir desse momento, o brincar deixa de ser apenas uma diversão. Ele se transforma em um caminho para a palavra, para o cuidado, para a linguagem.
FAQ sobre o brincar como proposta terapêutica
O que significa transformar o brincar em proposta terapêutica?
Significa usar o brincar como principal ferramenta para promover o desenvolvimento, a escuta e a linguagem de forma respeitosa e eficaz.
Por que a fonoaudiologia trabalha com o brincar?
O brincar é natural da infância e favorece a comunicação, a interação e o desenvolvimento da linguagem de maneira espontânea bem como prazerosa.
Meu filho só brinca nas sessões. Isso é suficiente?
Sim! Através da brincadeira, a criança aprende, se comunica e desenvolve sua linguagem sem nem perceber que está “sendo observada” ou avaliada.
Como os pais podem participar desse processo terapêutico?
Os pais podem observar como a criança brinca, participar de brincadeiras e criar momentos de qualidade para brincar junto, desse modo, respeitando sempre o ritmo e os interesses da criança.
Toda brincadeira é terapêutica?
É importante ressaltar, contudo, que nem toda brincadeira é terapêutica. Quando há uma intenção clínica clara, escuta ativa e vínculo, sem dúvida o brincar se transforma em um instrumento poderoso de cuidado e desenvolvimento.
Rita Paula Cardoso
Fonoaudióloga clínica da infância, especializada no desenvolvimento da linguagem. No blog Fala Expressa aborda temas relacionados ao desenvolvimento da fala, linguagem, inclusão e bilinguismo.
Especialidades: Fonoaudiologia
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