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Cansado de me sentir tolo: uma crônica que é quase um desabafo sobre política e esperança
Sentado na minha velha poltrona, olho para a televisão com a mesma desconfiança de sempre. A tela ilumina o quarto escuro, mas a luz que emana não traz conforto, apenas um cansaço que se acumula com os anos.
Já não tenho tempo para ouvir mentiras, muito menos os discursos peculiares que brotam da boca dos políticos. As palavras saem como fumaça, sem substância, sem verdade.
Estou velho e cansado de tantas mentiras e promessas feitas ao gosto de um povo “que se contenta com a Bolsa Família e sanduíches de mortadela”.
Lembro-me dos tempos em que a esperança ainda habitava meu peito. Acreditei em mudanças, em reformas, em um futuro melhor. No entanto, a cada eleição, a cada discurso inflamado, fui percebendo que o verdadeiro jogo não acontece nas urnas, mas nos bastidores, onde promessas são feitas e esquecidas com a mesma facilidade.
As ruas da minha cidade, que um dia foram palcos de grandes manifestações, hoje estão desertas. Onde estão aqueles que gritavam por justiça, por igualdade? Talvez tenham se esgotado, como eu. Ou talvez tenham sido silenciados pelo cansaço e pela frustração.
Enquanto isso, os políticos seguem em suas carreiras de mentiras. Ocasionalmente — ou melhor, quase sempre — um escândalo estoura, uma operação policial flagra um desvio de milhões. A população se indigna por um tempo, mas logo esquece, distraída por um novo entretenimento ou preocupada com a próxima refeição. Afinal, é difícil lutar contra um sistema que parece tão imutável quanto o nascer do sol.
Eu, com meus cabelos brancos e mãos trêmulas, assisto a tudo isso com uma mistura de resignação e tristeza. Já não posso mais sair às ruas, já não tenho forças para lutar. Resta-me apenas observar e escrever, talvez na esperança de que minhas palavras alcancem alguém, inspirem um jovem a não desistir tão facilmente.
As fantasias que criei em minha mente para sobreviver a essa realidade crua são como refúgios temporários. Imaginei um país onde os políticos são honestos, onde as promessas são cumpridas, onde o povo não precisa se contentar com migalhas. É uma terra distante, inacessível, mas que me conforta nos momentos mais sombrios.
A vida passa, os dias se arrastam. A cada nova mentira que ouço, sinto um pedaço de mim se desfazer, como se a verdade fosse um tecido frágil, corroído pela corrupção e pelo desdém dos poderosos.
Mas ainda há uma chama dentro de mim, uma pequena centelha de esperança que se recusa a morrer.
Talvez, um dia, as coisas mudem. Quiçá, um dia, as promessas se tornem realidade e a justiça prevaleça. Até lá, continuo aqui, sentado em minha velha poltrona, escrevendo minhas crônicas, misturando textos reais com fantasias, na tentativa de sobreviver a este mundo de mentiras e desilusões.
Apenas uma crônica de um velho sonhador…
Rubens Muniz Junior
Rubens de Azevedo Muniz Junior, economista, administrador de empresa, trader aposentado, 82 anos de idade, nascido em Pirajuí, é poeta, cronista, contista, romancista e amante de boa leitura. Viajou e residiu, a trabalho, fora do Brasil.
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