São Francisco de Assis e o radical chamado de amor

São Francisco, o santo místico, seu radical amor a Deus e aos homens e as lições e exemplos da espiritualidade Franciscana para nossas vidas!
São Francisco de Assis e o Radical Chamado de Amor
Foto: Era Sideral / Direitos Reservados

A história de São Francisco de Assis é uma das mais profundas e inspiradoras dentro da tradição cristã. Seu caminho de santidade não foi apenas um reflexo da imitação de Cristo, mas uma resposta radical ao chamado do amor divino, um amor que transcende o entendimento humano. Este chamado, no entanto, é mais do que um simples eco das palavras do Evangelho, é a própria essência do relacionamento entre Deus e o ser humano, revelado de maneira particular e extraordinária na vida de São Francisco.

São Francisco ouviu o chamado de Jesus em sua essência mais profunda: “Vende o que tens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus; depois vem e segue-me.” (Mt 19:21). Mas, como relatado no Evangelho de Marcos, o que realmente transformou sua vida foi o olhar de Jesus, um olhar cheio de amor. Esse detalhe pode parecer pequeno, mas é a base de toda a sua vida espiritual. O olhar amoroso de Cristo sobre São Francisco era um sinal da graça, uma convocação íntima que o impulsionava a abandonar tudo, não por mero sacrifício ou dever, mas por amor, por reconhecimento de que ele, São Francisco, era amado antes de tudo.

A profundidade desse relacionamento nos convida a uma reflexão maior sobre o conceito de amor absoluto. O que nos cativa nas grandes histórias de amor? O que desperta o nosso fascínio pelos romances clássicos, aqueles que atravessam séculos e culturas? A resposta parece residir no caráter radical do amor, aquele que tudo entrega, que tudo arrisca, que enfrenta qualquer desafio por amor ao outro. Contudo, todos esses romances terrenos, por mais sublimes que possam parecer, são apenas sombras pálidas do amor divino que encontramos na perseguição incansável de Deus à alma humana.

Essa verdade é central para o entendimento da santidade: um santo é alguém que foi completamente capturado por esse amor, que foi consumido por uma paixão espiritual que excede as preocupações terrenas. O santo não vive apenas por dever ou por um senso de justiça moral, mas por um desejo insaciável de corresponder ao amor de Deus. São Francisco de Assis personificou essa realidade ao longo de sua vida, vivendo uma existência moldada pelo amor de Cristo que se manifestou de forma suprema na cruz. Como o próprio São João disse: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 João 4:19).

Ao celebrarmos a vida de São Francisco, é fácil sermos atraídos pelos aspectos mais espetaculares de sua vida — os milagres, as curas, o comando sobre os animais e a natureza. Mas esses milagres são apenas manifestações externas de uma vida profundamente moldada pela imitação do coração de Cristo. São Francisco, como Cristo, se esvaziou de si mesmo, tomou a forma de servo, e viveu em obediência absoluta à vontade de Deus. Seu desejo era tão radical que ele abraçou uma pobreza total, não como um fim em si, mas como um meio de depender inteiramente da providência divina. Para São Francisco, a pobreza não era uma virtude isolada, mas a forma mais pura de confiança em Deus, um reflexo do abandono de Cristo à vontade do Pai.

Essa imitação não parou nos atos externos de sua vida. Ela se aprofundou a tal ponto que, em um momento único e extraordinário, São Francisco foi agraciado com os estigmas, os sinais visíveis das feridas de Cristo, um testemunho físico de sua conformidade ao sofrimento redentor do Senhor. Isso não era apenas uma marca de santidade, mas sim, uma prova de sua união mística com Cristo.

E o que isso significa para nós, hoje? O chamado de São Francisco continua a ecoar através de todos esses séculos, não como um convite a imitar suas ações exteriores, mas para que entendamos o fundamento da espiritualidade Franciscana.

Tudo o que fazemos em nossa vida espiritual deve ser uma resposta ao amor de Deus. Não jejuamos, rezamos ou praticamos boas obras para conquistar o amor divino; fazemos isso porque já fomos intensamente amados. O amor é sempre a primeira ação, e a nossa vida é uma reação ao infinito amor de Deus. Ao reconhecer esse amor, somos impelidos a corresponder com todo o nosso ser.

Este entendimento é crucial para a nossa própria jornada espiritual. Ao final de nossas vidas, cada um de nós contará sua própria história de amor, uma história que será contada para toda a eternidade, como um hino de louvor. E, como São Francisco nos exorta em sua carta ao povo de Deus: “Nada de vocês retenham para si mesmos, para que Aquele que Se dá totalmente a vocês os receba totalmente.”

Além de seu relacionamento com Deus, São Francisco também nos oferece uma visão única do relacionamento entre o homem e a criação. Para ele, nada no mundo criado era insignificante ou destituído de valor. Tudo era um reflexo da bondade de Deus. Sua famosa relação com os animais, muitas vezes romantizada e simplificada pela cultura popular, revela uma teologia mais profunda e complexa. Para São Francisco, até mesmo os pássaros louvavam a Deus ao cantar, enquanto nós, seres humanos, dotados da razão, temos o privilégio e a responsabilidade de amar e louvar conscientemente ao Criador.

São Francisco – O Poeta místico

O “Cântico das Criaturas”, uma das primeiras obras literárias escritas em italiano e atribuída a São Francisco, reflete essa visão. Nessa obra, ele exalta a beleza da criação, não por seu próprio valor, mas porque, através dela, Deus é glorificado. O amor pela natureza de São Francisco não era um panteísmo primitivo, mas uma apreciação da criação como um reflexo do Criador.

Ele via o mundo natural como uma expressão tangível do amor de Deus por Sua criação, um eco da bondade divina.

Histórias como o famoso sermão aos pássaros ou o encontro com o lobo de Gubbio ilustram não apenas sua capacidade de se comunicar com os animais, mas também a maneira como ele via cada criatura como parte do grande plano divino. No sermão aos pássaros, São Francisco exorta as aves a louvar a Deus por tudo o que lhes foi dado, lembrando-as de que, mesmo sem semear ou colher, Deus providencia para suas necessidades. Essa mensagem, destinada às aves, era também uma mensagem para seus próprios seguidores: confiar plenamente na providência divina, reconhecer que tudo vem de Deus e, acima de tudo, evitar a ingratidão.

Em contraste com a doçura do sermão aos pássaros, o episódio do lobo de Gubbio revela outro lado da criação, o lado marcado pelo mal e pela destruição. O lobo, que aterrorizava a cidade, é confrontado por São Francisco, não com violência, mas com a paz de Cristo. São Francisco repreende o lobo por seus atos de violência, mas também oferece uma solução: ele promete que os habitantes da cidade alimentarão o lobo, desde que, este pare de atacar. Aqui vemos a profundidade da misericórdia e da justiça de São Francisco. Ele não apenas repreende, mas oferece uma solução pacífica, mostrando que até mesmo o mal pode ser redimido pela graça divina.

Essas histórias são simbólicas. O pássaro e o lobo representam dois lados da natureza humana: a inocência e a obediência à vontade de Deus, mas também, a capacidade para fazer o mal. São Francisco, em sua humildade, nos lembra que somos parte da criação e que devemos viver em harmonia com ela, respeitando tanto os aspectos belos quanto os desafiadores da natureza.

Por fim, a mensagem de São Francisco para nós é clara. Ele nos convida a uma vida de radical dependência de Deus, uma vida que reflete o amor divino em cada ação e pensamento. Ele nos chama a ver o mundo ao nosso redor como uma expressão da bondade de Deus e a viver em resposta a esse amor com todo o nosso ser. A vida de São Francisco é um testemunho do que significa ser verdadeiramente humano, de viver em total comunhão com Deus e com a criação.

Mântica Rhom

A sabedoria ancestral e o misticismo da cultura cigana em consultas que promovem o autoconhecimento e orientação espiritual através da cartomancia tradicional, do tarô e do baralho cigano.

Especialidades: Aromaterapia, Astrologia, Baralho Cigano, Fitoterapia, Florais, Numerologia, Radiestesia, Tarot

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